“Quando uma menina deixa de ir à escola por estar menstruada, perde muito mais do que a aula do dia”, diz a VP de Always

Julia Moioli | 29 abr 2022
Laura Vicentini, VP de Always e líder de Desenvolvimento & Inovação da P&G. (Foto: Divulgação)
Julia Moioli | 29 abr 2022

Quando encomendou sua primeira pesquisa sobre pobreza menstrual no Brasil, em 2020, a multinacional P&G não imaginava receber um resultado tão chocante: uma em cada quatro garotas brasileiras – quase 29% – deixa de frequentar aulas por causa da falta de absorventes. O país estava no auge da primeira onda da pandemia de Covid-19, mas os executivos de Always, marca da empresa focada em cuidados femininos, perceberam que ações para combater esse problema não poderiam ficar paradas – especialmente com a diminuição da renda das mulheres em decorrência da crise sanitária.

Um compromisso oficial com a causa foi, então, assumido, e a primeira campanha de conscientização e apoio veio no ano seguinte: #MeninaAjudaMenina doou mais de 3 milhões de absorventes a jovens em situação de vulnerabilidade. Hoje, mais de dois anos depois e com 80 mil adolescentes já beneficiadas, a empresa se prepara agora para expandir sua atuação, com o lançamento da Aceleradora Social Contra Pobreza Menstrual.

“Jovens deixam de frequentar a escola, e sua educação sofre um impacto gigantesco, e mulheres adultas faltam ao trabalho, comprometendo sua renda e a economia global”, diz Laura Vicentini, VP de Always e líder de Desenvolvimento & Inovação da P&G.

“Ao criar a primeira Aceleradora Social Contra Pobreza Menstrual do mundo, queremos ser um catalizador na luta contra a pobreza menstrual. Acreditamos que, além do setor público, que cria leis e projetos estruturais, outros agentes da sociedade, como empresas privadas e ONGs, devem fazer sua parte.”

O modelo funcionará nos mesmos moldes do ambiente de startups, com a P&G no papel de investidora, acelerando com recursos financeiros até cinco ONGs selecionadas entre as inscritas pelo site oficial da campanha. Cada instituição, que funcionará como ponte para ajudar a multinacional a atingir mais comunidades vulneráveis, receberá R$ 50 mil para implementar seu projeto e 100 mil absorventes para doação, além de capacitação técnica pelo time multidisciplinar de liderança da P&G.

Os especialistas da P&G atuarão durante um ano como mentores para as equipes dessas instituições, oferecendo apoio e conhecimento em áreas como logística, educação e marketing. Para isso, participarão de encontros trimestrais durante a estruturação dos projetos.

Para compor o ecossistema da Aceleradora Social Contra Pobreza Menstrual, Always ativa também seus clientes: Grupo Profarma, Drogasmil, Drogaria Rosário, Ibiapina e Panvel vão investir financeiramente nos projetos e se comprometem ainda a cumprir internamente requisitos relacionados à causa, como ter número suficiente de liderança feminina e outros que ainda serão definidos pela multinacional. “Queremos ver ações concretas que contribuam para mudar a realidade das mulheres no Brasil”, diz Laura.

ACELERADORA COMO INTERMEDIÁRIA DAS AÇÕES SOCIAIS

Não é a primeira vez que o conceito de aceleração é utilizado em experiências internas na P&G. No início da pandemia de Covid-19, a empresa ativou uma aceleradora social para fomentar projetos que contribuíssem para sanar problemas causados pela pandemia. Deu tão certo que, em uma segunda fase, a companhia voltou a incentivar empresas chefiadas por pessoas negras. Agora é a vez de lidar com a pobreza menstrual.

Este ano, uma pesquisa encomendada pela P&G ao Locomotiva Instituto de Pesquisa trouxe novos dados preocupantes sobre o cenário da pobreza menstrual no Brasil, levando ao lançamento da nova campanha #MaisAbsorventesMenosFaltas. A ação tem o apoio de parceiros como a companhia aérea Latam e a empresa de gestão logística Zenatur, que operacionalizam o transporte de mais de um milhão de absorventes para os estados de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará e Pernambuco.

De acordo com o levantamento, a pobreza menstrual afeta hoje quase 3 milhões de estudantes dos ensinos fundamental, médio ou superior e resulta em 14 milhões de faltas por ano. As escolas e universidades são justamente os locais onde elas mais sentem constrangimento durante o período menstrual. Estudantes negras, das classes D e E e das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste são as mais atingidas.

“Quando uma menina deixa de ir à escola por estar menstruada, ela perde muito mais do que a matéria do dia. Ela perde a experiência, a convivência com as amigas, as oportunidades. É aí que começa a desigualdade de gênero.”

MULHERES ADULTAS TAMBÉM ENFRENTAM DIFICULDADES

Outros números mostram que o problema vai além da adolescência. Entre mulheres adultas, três em cada quatro afirmam que a menstruação atrapalha a sua rotina e 5,5 milhões dizem que já faltaram aos seus postos de trabalho pela falta de absorventes (dessas, 4,3 milhões tiveram que fazer isso mais de uma vez). O prejuízo gerado na economia nacional é de 2,4 bilhões de reais.

Mais de 35% das entrevistadas também disseram que os gastos com produtos de higiene comprometem a renda mensal e 36% já tiveram que pedir absorvente (ou dinheiro para comprá-lo) emprestado.

Por todos esses motivos, a empresa destaca que a causa da pobreza menstrual é um compromisso de longo prazo, que não será encerrado com o fim da primeira rodada da aceleradora.

A ideia central neste momento é justamente aprender a ser eficaz no combate ao problema e avaliar a melhor forma de aumentar, expandir ou modificar o formato do programa para que ele possa, inclusive, ser replicado em outras partes do mundo, já que, de acordo com a líder de Desenvolvimento & Inovação da P&G, a multinacional observa com atenção esse tipo de impacto no Brasil.



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