Com água tratada, é possível economizar até 13% em gastos com internações, diz estudo inédito do IDB Invest e BRK

Mariana Sgarioni | 6 jun 2023
Carlos Almiro, head de Sustentabilidade e Gestão de Riscos, da BRK.
Mariana Sgarioni | 6 jun 2023

Uma população que tem acesso a água e esgoto tratados tem mais saúde, portanto, demanda menos gastos em saúde pública. A afirmação, que pode parecer óbvia em um primeiro momento, fica surpreendente quando se traduz em números: ao aumentar apenas 10% o investimento em tratamento da água, é possível alcançar uma economia de 13% nas hospitalizações por doenças infecciosas gastrointestinais. Este é o resultado da pesquisa “O líquido da vida: estimando os impactos dos serviços de água e saneamento na saúde no Brasil”, realizada pela IDB Invest, em parceria com a BRK, a qual NetZero teve acesso em primeira mão.

“Descobrimos que o tratamento da água impacta mais na saúde pública do que o esgoto. São 200 mil internações por ano em decorrência deste tipo de problema. Os valores que o SUS paga por elas não é pouco, temos um rombo. Estamos onerando o sistema de saúde porque não temos um serviço público básico”, afirma Carlos Almiro, head de Sustentabilidade e Gestão de Riscos, da BRK.

“As pessoas estão indo para o hospital sem precisar. Não existe almoço grátis: no final do dia, este problema impacta na dívida pública e é você quem vai ter que pagar um imposto maior”.

No caso da dengue, os dados são ainda mais impressionantes: um aumento de 10 pontos percentuais na cobertura de água potável e dos serviços de esgoto pode reduzir as internações por dengue em mais de 50%; já a substituição de fossas sépticas por sistemas de saneamento básico diminuiria a incidência de diarréia e outras doenças em cerca de 30%.

O estudo usa um método econométrico e um conjunto de dados que permite isolar o efeito da água e do saneamento de outros fatores, tais como renda e morbidade, por exemplo. Foram 38 cidades brasileiras pesquisadas entre setembro de 2021 e dezembro de 2022.

EDUCAÇÃO E GERAÇÃO DE EMPREGOS

A pesquisa apontou que o tratamento de água e esgoto impacta não apenas nos gastos em saúde como também em educação e na economia, com a criação de empregos.

Na cidade de Sumaré, por exemplo, localizada no interior de São Paulo, com os investimentos em saneamento, as hospitalizações causadas por doenças de veiculação hídrica caíram 75%. Os gastos com saúde pública caíram 21% e o atraso escolar caiu em 74%. Por outro lado, a geração direta de empregos aumentou em 54%. Segundo Almiro, outro levantamento da BRK, revelou que o problema do atraso escolar impacta mais as mulheres que estudam do que os homens.

“Os atrasos escolares recaem mais sobre as meninas porque, em geral, são elas que perdem aulas para cuidar de quem fica doente”.

UM CANADÁ INTEIRO SEM ÁGUA POTÁVEL

A falta de acesso à água potável impacta quase 35 milhões de pessoas no Brasil. Isso significa quase a população de um país como o Canadá. Já cerca de 100 milhões de brasileiros não possuem acesso à coleta de esgoto. Dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento) apontam que somente 51,20% do volume gerado no país é tratado – mais de 5,5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas na natureza diariamente.

“Não existe desenvolvimento sem acesso a serviços públicos essenciais. Não existe nenhum país que tenha se desenvolvido, que hoje tenha altos índices de IDH, e que tenha baixa cobertura de saneamento. Estamos mostrando que saneamento diminui gastos com saúde, atraso escolar, aumenta geração de emprego. Precisamos ser o ‘pica-pau do bem’ e ficar martelando: não tem outro caminho”.



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