Gerar renda, fortalecer vínculos e manter elo com a terra: como famílias estão mudando suas vidas por meio de um projeto social

Marcela Marcos | 13 dez 2022
Associação Sabores da Serra (Foto: Ferdinando Ramos/Plus Images).
Marcela Marcos | 13 dez 2022

Pioneiros na plantação de morango na região de Cerro Negro (SC), iniciada há 16 anos, os agricultores familiares da Associação Sabor da Serra enfrentaram muitas dificuldades para manter a cultura naquela área. Há dois anos, a entidade foi selecionada para participar do projeto Usina de Negócios. A iniciativa social da CTG Brasil, uma das líderes em geração de energia limpa no País, é voltada para o desenvolvimento socioeconômico em algumas regiões no entorno de suas operações.

“Se não fosse o morango, a maioria aqui já tinha ido embora. Ele nos deu uma vida digna e a oportunidade de poder ter o que o pessoal da cidade também tem. Uma das conquistas desse projeto é a gente conseguir se manter no meio rural”, conta Clodoir Varela, presidente da associação. As estufas precárias deram lugar a estruturas profissionais, chegaram novos equipamentos, sementes, insumos e, sobretudo, formação. A qualidade dos insumos agora permite que a colheita seja mensal, trazendo estabilidade financeira para as famílias. “Agora temos uma renda mensal segura e nosso faturamento por mês mais do que dobrou.”

Com investimento de mais de R$ 1 milhão em recursos próprios, o Usina de Negócios foi criado pela CTG Brasil em 2020 como um projeto piloto, com o objetivo de direcionar seus investimentos sociais para a geração de renda e desenvolvimento local em comunidades próximas às suas operações.

Em parceria com o Instituto Meio, o programa conta com duas frentes de apoio: uma para empreendedores, voltada para pessoas físicas e jurídicas que querem acelerar seus negócios na região da Usina Hidrelétrica Jurumirim, no Rio Paranapanema, em São Paulo, e outra para grupos produtivos, no entorno da Usina Hidrelétrica Garibaldi, no Rio Canoas, em Santa Catarina.

“Fizemos um estudo de priorização para entender em  quais regiões deveríamos focar  nosso investimento social e, então, abrimos uma chamada pública na usina Garibaldi (SC) para associações produtivas, e inscrições na região da usina Jurumirim (SP) para empreendedores”, diz Paula Ebeling, consultora de Sustentabilidade da CTG Brasil. Paula explica que a metodologia do estudo para definição das regiões prioritárias se baseou em dados socioeconômicos, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das cidades do entorno das operações da CTG Brasil, além de outros fatores, como interdependência do município e da operação da empresa.

Associação Mulheres do Cruzeirinho (Foto: Ferdinando Ramos/Plus Images)

Já os grupos produtivos beneficiados foram escolhidos com base em aspectos como potencial das propostas para aceleração, situação socioeconômica dos grupos e capacidade de realização. A partir da opção por Garibaldi, a empresa fez um chamamento público e recebeu propostas de 23 associações, das quais três foram selecionadas. Paula explica:

“Olhamos a vocação produtiva em Santa Catarina, que tem muito plantio de hortaliças, frutas, cultivo de gado leiteiro e de mel. Os três grupos escolhidos são da agropecuária, já eram formalizados e tinham potencial para executar o projeto.”

Além do Sabor da Serra, em Cerro Negro, fazem parte do programa hoje a Associação Mulheres do Cruzeirinho, na mesma região, e a Associação de Produtores Rurais Quilombolas, no município de Abdon Batista.

AGRICULTURA COMO FORÇA MOTRIZ DA AUTONOMIA

O know-how do Instituto Meio, uma associação sem fins lucrativos que há 17 anos desenvolve e implementa projetos de empreendedorismo e inclusão produtiva, foi essencial para desenvolver planos de negócios específicos para cada um dos três projetos. O resultado foi tão expressivo que a renda das famílias integrantes dos coletivos mais do que dobrou em relação ao início do projeto. Em muitos casos, as famílias viviam com menos de R$ 150 ao mês, e o aumento da produtividade e a estabilidade da produção funcionaram como uma força motriz para a autonomia de cada grupo.

“Os resultados se dão principalmente pela melhoria da qualidade do solo e das produções, acesso estável a recursos hídricos alcançado por meio da aquisição de caixas d’água e aumento da qualidade de vida e autoestima dos participantes, que agora reconhecem suas habilidades e acreditam em seus sonhos”, afirma Lars Diederichsen, presidente do Instituto Meio.

“Nosso foco atual é no fortalecimento das conexões entre os grupos, estímulo à autonomia e desenvolvimento de produtos de comunicação para as associações, promovendo a divulgação de suas histórias, do trabalho que desenvolvem e dos produtos que comercializam.”

Já os integrantes da associação quilombola destacam o fortalecimento do grupo por meio de encontros. “A gente se desenvolveu enquanto associação porque passou a se reunir mais. Estamos cheios de planos e de resgate histórico da nossa ancestralidade”, conta um deles.

Na mesma cidade da Sabor da Serra, a Associação Mulheres do Cruzeirinho também aposta no morango para sustentar as 12 famílias que dela fazem parte. Como o nome sugere, só há mulheres entre as 25 beneficiárias diretas. Antes do Usina de Negócios, o coletivo trabalhava com uma muda nacional da fruta, que morria no inverno – período em que a renda ficava comprometida, deixando as famílias em condição de vulnerabilidade.

Associação Quilombolas Invernada dos Negros (Foto: Ferdinando Ramos/Plus Images).

A iniciativa da CTG Brasil substituiu a variante por uma versão importada, cuja colheita ocorre em média ao longo de nove meses por ano. Além do produto in natura, as beneficiárias agora também passaram a produzir geleia com a fruta, buscando agregar valor à produção, depois de passarem por treinamentos ligados ao projeto. Uma caixinha de morango que antes era vendida a R$ 4 agora vale R$ 10, sendo comercializada em feiras e mercados da região.  

EM SÃO PAULO, PROGRAMA APOIA EMPREENDEDORES

Já o incentivo a empreendedores contou com um chamamento público para projetos no entorno da usina hidrelétrica Jurumirim, nas cidades paulistas de Avaré, Piraju e Itaí, também em parceria com o Instituto Meio. Foram mais de 130 participantes para o programa de treinamento online que durou seis semanas. Com o objetivo de fomentar a geração de trabalho e renda nas comunidades do entorno de suas usinas, a capacitação foi focada em gestão, finanças, marketing e comunicação, e atingiu mais de 400 beneficiários indiretos.

Entre os resultados, está o aumento de 42% da renda dos empreendedores participantes. Além disso, três participantes foram selecionados para receber capital-semente, mentoria e acelerar seus negócios.

PROGRAMA RECEBERÁ R$ 1,2 MILHÃO EM 2023

A CTG Brasil e o Instituto Meio mapearam alguns indicadores do projeto que envolve os três grupos produtivos de Santa Catarina. Além do aumento da renda média, foram considerados indicadores como aumento de produção, a relevância das iniciativas para a sociedade, o impacto nas compras de território, a evolução das conexões e a longevidade do negócio. Os resultados surpreendentes fizeram com que a companhia aprovasse a continuidade do projeto, com investimento previsto de R$ 1,2 milhão para 2023. Será aberto mais um ciclo em SC, além do apoio a novos grupos no entorno da usina hidrelétrica Jupiá (MS) e abertura de uma nova frente de turismo.

O foco será desenvolver o turismo no entorno da usina hidrelétrica Chavantes, na região de Angra Doce (PR). A fase atual é de construção do plano de ação para fomentar o desenvolvimento do setor turístico, para que beneficie toda sua cadeia de valor – setor público, entidades de classe, empresários, comércio e serviços, e continue promovendo o desenvolvimento socioeconômico por meio da geração de renda das famílias que vivem nas áreas em que a CTG Brasil atua.


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