Como o Grupo Boticário quer usar a gestão de resíduos para reduzir a desigualdade social no Brasil

Maisa Infante | 29 nov 2021
O Grupo Boticário tem 16 compromissos para o futuro. E dois deles estão relacionados com a gestão de resíduos e seu impacto na sociedade. (Crédito: Divulgação)
Maisa Infante | 29 nov 2021

Tal qual as matrioskas, aquelas bonecas russas que saem uma de dentro da outra, a pegada ambiental de pessoas e empresas parece uma cadeia sem fim. Porque tudo tem impacto no mundo: do tênis que você usa quando decide poluir menos e andar a pé à borracha do pneu que faz girar o carro elétrico. 

Foi olhando para esse sistema desafiador de impactos inevitáveis que o Grupo Boticário – dono das marcas O Boticário, Eudora, Quem Disse, Berenice?, Beautybox, Multi B, Vult e Beleza na Web – estabeleceu dois compromissos ambiciosos: solucionar 150% de todo resíduo sólido gerado por sua cadeia e reduzir a desigualdade social de 1 milhão de brasileiros por meio de mudanças na gestão de resíduos no Brasil.

Estas pessoas impactados, segundo a empresa, inevitavelmente serão aquelas que fazem parte de populações mais vulneráveis. Seja porque elas formam a grande força de catadores de resíduos no país ou seja porque vivem em áreas periféricas, sempre mais afetadas por problemas gerados por resíduos, como a falta de saneamento básico. 

A TRANSFORMAÇÃO DEVE VIR DA GERAÇÃO DE OPORTUNIDADE

A principal ideia por trás de mapear e solucionar 150% do resíduo sólido gerado pela cadeia –o que significa receber embalagens também da concorrência– e reduzir a desigualdade social de 1 milhão de brasileiros é conectar as iniciativas de gestão de resíduos à geração de trabalho e melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Ao mostrar o que pode ser feito com os resíduos, a expectativa é aumentar o engajamento dos consumidores no programa de logística reversa da empresa, o BotiRecicla, que existe desde 2006 e tem 4 mil pontos de coleta em lojas pelo País.

Na prática, estão sendo desenvolvidas diversas iniciativas que buscam resolver algumas questões. Uma das mais recentes, lançada em novembro deste ano, é a Estação Preço de Fábrica, parceria do Grupo Boticário com a Green Mining e a Prefeitura de Carapicuíba, município da Grande São Paulo. 

O projeto instalou uma estação de recebimento de vidro no shopping Plaza Carapicuíba. Todo material que chega até lá é pesado e classificado de acordo com a cor. A partir daí, um recibo é gerado e o valor acumulado é depositado semanalmente na conta da pessoa. A meta inicial é recolher 25 toneladas de vidro por mês até fevereiro de 2022. Qualquer pessoa pode levar vidro até a estação, mas existe uma expectativa de que isso movimente, especialmente, os catadores da região.

Com isso, espera-se que mais catadores queiram recolher vidro porque terão uma remuneração melhor e a indústria queira produzir vidro a partir de material pós-consumo porque terá demanda de empresas como o Grupo Boticário.

Outra iniciativa para fomentar a cadeia de reciclagem e impactar na qualidade de vida das pessoas é a transformação do plástico pós-consumo em espaços e mobiliário sustentáveis.

O projeto piloto dessa ideia aconteceu no Natal de 2020, quando o grupo construiu uma loja em São Paulo em que o piso, as paredes e o teto foram feitos com plástico reciclado pós-consumo recebidos pela empresa em suas iniciativas de logística reversa. Essa mesma tecnologia é usada na construção de mobiliários e luminárias utilizadas em algumas lojas da companhia.

Neste ano, ela está sendo usada em uma parceria feita com a ONG Gerando Falcões para produzir os contêineres que abrigam as lojas do projeto Bazar do Bem, que emprega jovens em vulnerabilidade social e vende produtos a preços baixos.

O primeiro foi instalado no Shopping Center Norte, em São Paulo, e foi construído usando 2 toneladas de plástico que vieram do descarte da indústria e do consumidor. 

O DESAFIO DE IR ALÉM DA RECICLAGEM

Para colocar a logística reversa em funcionamento, não basta criar iniciativas e projetos. É preciso envolver toda a cadeia, incluindo os consumidores, parte fundamental quando se fala em resíduo pós-consumo. Esse é o maior desafio no momento.

A Estação Preço de Fabrica foi instalada em novembro deste ano em Carapicuíba (SP) para receber vidros. O Grupo Boticário é parceiro do projeto e quer pagar mais caro pelo vidro feito com material pós consumo. (Crédito: Divulgação)

Hoje, o grupo já trabalha com refil para alguns produtos de pele e estuda como fazer isso para a parte de perfumaria, onde esbarra em questões regulatórias, como liberação da Anvisa. Segundo a empresa não é possível, por exemplo, ter um sistema de recarga de embalagens – como as máquinas de refrigerante – porque a lei não permite manipular produtos nas lojas e comercializar.

Nesse caso, é fundamental a parceria com a área de Pesquisa e Desenvolvimento para buscar alternativas que ajudem a reduzir o uso de embalagens nos produtos e também a ter embalagens mais sustentáveis, como os frascos de xampu, condicionador e loções da linha Nativa Spa Orgânico, feitos com plástico de origem vegetal e renovável ou com PET 100% reciclado pós-consumo.

Uma das estratégias para essa integração foi atrelar uma parcela da remuneração variável de gerentes e vice-presidentes ao alcance de objetivos de sustentabilidade, incluindo a meta de aumentar o percentual de embalagens recuperadas por meio da logística reversa.



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