Como tornar as cidades mais inteligentes? Plataforma Bright Cities gera diagnósticos e indica soluções para empresas e municípios

Julia Moioli | 15 dez 2021
A administradora Raquel Cardamone, CEO e fundadora da Bright Cities. (Crédito: Divulgação)
Julia Moioli | 15 dez 2021

Quando, em março de 2020, a pandemia de Covid-19 começou a dar sinais de que sobrecarregaria o sistema de saúde, as cidades brasileiras perceberam que precisavam se planejar para reduzir os impactos. Mas, para isso, faltavam informações: não só se desconhecia quantos leitos hospitalares existiam como faltavam dados que consolidassem os números dos setores público e privado.

Foi então que a plataforma Bright Cities entrou em cena, fornecendo informações necessárias para tornar as cidades mais inteligentes no enfrentamento da crise. “Por mais que a questão da transformação digital já se mostrasse como um caminho a ser seguido, as cidades não estavam preparadas para a pandemia”, avalia a administradora Raquel Cardamone, CEO e fundadora da Bright Cities.

Cardamone conta que gerenciaram melhor a situação as administrações que já tinham grande parte dos serviços digitalizados.

“O tema das cidades inteligentes crescia antes da pandemia, mas agora vive um boom. Um número cada vez maior de gestores públicos o inclui em seus planos para entregar uma gestão mais eficiente.”

O número de leitos hospitalares disponíveis é apenas um dos mais de 100 indicadores capazes de mostrar o estágio de inteligência em que as cidades se encontram e quais ações precisam ser feitas para evoluir. Esses indicadores, estabelecidos por normas que regem a administração pública, se dividem em dez áreas: saúde, governança, educação, urbanismo, meio ambiente, segurança, mobilidade, empreendedorismo, tecnologia e inovação.

Em saúde, por exemplo, avalia-se ainda o número de médicos, infra-estrutura e números de saúde mental, entre outros pontos.

São nesses índices que se baseiam os relatórios que a Bright Cities elabora para seus clientes – tanto da administração pública como do setor privado ou de instituições não-governamentais, com a intenção de ampliar os serviços oferecidos por determinado município. São diagnósticos que analisam o desempenho das várias áreas em comparação com o de outras cidades e, a partir disso, indicam soluções. Hoje, são mais de 5.500 municípios mapeados.

Apesar de haver boas iniciativas no Brasil –como em Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas, o país não tem ainda nenhuma cidade que atue de forma inteligente em mais de seis áreas.

No mundo, há bons exemplos a seguir: Barcelona, Chicago, Berlim e Amsterdã são exemplos de cidades bem sucedidas segundo essa abordagem. Já Israel e Singapura se firmam como nações mais inteligentes.

DIAGNÓSTICO PRECISO PARA ENCONTRAR AS MELHORES SOLUÇÕES

Segundo Cardamone, a gestão pública conta com muitos dados para ajudar na tomada de decisão assertiva, mas há muita complexidade para gerenciá-los. Para realizar essa espécie de “fotografia” das cidades, a Bright Cities, fundada em 2018, conta com um banco de dados com mais de 50 fontes oficiais de dados brasileiros, entre elas IBGE e DataSUS.

As informações relevantes são capturadas, trabalhadas internamente, enquadradas para padronização e comparação, e normatizadas. Hoje existem ao menos três normas voltadas para cidades, e a govtech trabalha principalmente com a 37120, que é uma norma ISO padronizada internacionalmente, com cerca de 120 indicadores.

Com um bom diagnóstico, as cidades ganham um ponto de partida para se tornarem mais inteligentes, inclusive utilizando no setor público inovações que já vemos no privado, como o uso de aplicativos. Outro benefício da plataforma é a melhora da aferição de dados.

“A inteligência é importante pra todas as cidades, independentemente do tamanho. Atendemos municípios de 1.500 habitantes até cidades de mais de 1 milhão de moradores.”

Um dos cases de sucesso da Bright Cities é o de Cataguases, município em Minas Gerais com 70 mil pessoas. A plataforma foi contratada em 2018 pela Energisa, empresa de energia local, que queria promover uma melhor qualidade de vida à população. O diagnóstico foi focado nas áreas de mobilidade e energia, com impacto na área de segurança.

Entre os indicadores avaliados estavam quantos postes de luz funcionavam com lâmpadas que necessitassem de menos consumo de energia, como as de LED. Naquele momento, nenhum. Outro foi o número de prédios públicos (de administração, hospitais e escolas) que utilizassem energia renováveis. A resposta foi a mesma: nenhum dos 77 prédios da cidade.

Outra forma de as empresas privadas se beneficiarem dos diagnósticos da Bright Cities é usá-los para aprofundar sua agenda ESG, já que todos os indicadores avaliados possuem uma correlação com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.

“O ESG nada mais é do que o impacto dessas ações, que vão contribuir para o desenvolvimento social, impactos positivos no meio ambiente e toda essa parte de governança.”

A CIDADE DO FUTURO TEM TUDO A 15 MINUTOS DE CASA

Nem os entraves típicos da administração pública no Brasil – como o burocrático e moroso processo de compras públicas – conseguem camuflar a importância do trabalho da Bright Cities em incentivar cidades a serem mais inteligentes.

Para entender melhor, basta visualizar como Raquel enxerga o futuro: uma cidade de 15 minutos, onde seja possível fazer tudo perto de casa. Trabalhar, ter momentos em áreas de lazer, fazer supermercado, acessar serviços públicos. Os dados para isso já estão disponíveis.

“A cidade do futuro é uma cidade que gera mais qualidade de vida para que eu tenha acesso a todos os serviços de uma maneira mais rápida e melhor. É uma cidade que já prevê o que eu preciso e onde estão os problemas com dados e resolve tudo isso antes que impacte negativamente a população.”

Esse modelo de futuro também não deixa ninguém de fora dessa evolução tecnológica – com capacitação e incentivo para a participação de todos na decisão dos rumos do local onde vivem.



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