COP26, dia 3: Onde está o dinheiro para viabilizar os acordos fechados até aqui?

Nádia Pontes | 3 nov 2021 Pavilhão brasileiro na COP26 Brazil Climate Action Hub - espaço da sociedade civil do Brasil - na COP26
No espaço da sociedade civil do Brasil na COP26, empresas nacionais debateram como a iniciativa privada contribui para uma sociedade que emite menos carbono. (Foto: Eduardo Carvalho)
Nádia Pontes | 3 nov 2021

Com a despedida dos chefes de Estado da COP26, o foco se volta para as mesas de negociações formais. Apesar de se declarar otimista e dizer que os primeiros dias da reunião apontam para um “um bom começo”, a presidência da conferência admite que a conta ainda não fecha.

O corte de emissões de gases de efeito estufa anunciado pelos países até aqui não é o bastante para limitar o aquecimento do planeta em 1,5º C até o fim do século em comparação com a média pré-industrial.

Alok Sharma, presidente da COP26, declarou em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (3/11):

“A boa notícia é que estamos firmemente unidos para entregar um futuro de neutralidade de emissões de carbono”.

Depois dos anúncios de recursos em várias frentes para combater as mudanças climáticas, como os mais de US$ 17 bilhões para proteger as florestas, a discussão agora se aprofunda numa promessa de outras COPs: os US$ 100 bilhões para apoiar os países mais pobres que sofrem com intempéries climáticas.

O acerto de que isso ocorreria até 2020 foi feito na COP15, em 2009, em Copenhague. O financiamento seria fornecido pelos países do chamado Anexo I do acordo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) – os mais desenvolvidos e com altas emissões – para os não incluídos no Anexo I, ou seja, as nações em desenvolvimento.

O compromisso foi reiterado na COP seguinte, em Cancún, repetido e ajustado em Paris, em 2015. Naquela ocasião, todos concordaram em estender o financiamento de  US$ 100 bilhões anualmente até 2025. O plano é usar o dinheiro para custear ações para reduzir as emissões e adaptar os países para os impactos já irreversíveis das mudanças do clima.

Como o ano já é 2021 e até agora nada foi pago, Glasgow precisa destravar a questão – e a pressão para que os valores sejam arrecadados e disponibilizados é crescente. Patricia Espinosa, secretária executiva da UNFCCC, afirmou que espera que as contribuições dos mais ricos alcancem a meta até 2022. Por outro lado, analistas acreditam que isso não deve ocorrer antes de 2023.

Financiamento em pauta

O dia é das finanças na COP26. A mobilização entre as instituições financeiras é notável. Mais de 450 se juntaram à Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), uma coalizão global para descarbonizar a economia mundial e chegar à neutralidade de emissões até 2050.

Michael R. Bloomberg, fundador da Bloomberg, anunciou que se juntará a Mark Carney como co-presidente da iniciativa, o que é interpretado como bom sinal pelos observadores na COP26. É esperado que bancos em geral considerem, o mais rápido possível, os riscos significativos de investir em atividades que despejem carbono na atmosfera, além do potencial de causar conflitos socioambientais.

A GFANZ gerencia mais de US$ 130 trilhões em capital privado. Agora, as empresas de todo o espectro financeiro – incluindo seguradoras, fundos de pensão, bolsas de valores, agências de classificação de crédito, entre outros – devem se comprometer com metas mais  ambiciosas baseadas na ciência. Além dos objetivos estipulados para 2050, o grupo deve revisá-los a cada cinco anos e relatar o seu progresso.

Proteção para os mais vulneráveis

Integrantes de peso do sistema ONU, como a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) criaram um novo fundo para investir na coleta de dados meteorológicos e climáticos. Essas informações são vitais para que os países saibam o que está por vir.

A força-tarefa vai ajudar a entender melhor o clima do passado e os cenários futuros. A preocupação é maior nos pequenos países insulares e nos mais vulneráveis, que devem ser priorizados pelo fundo. Estima-se que a observação do tempo e do clima gerem benefícios calculados na casa dos US$ 162 bilhões.


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