Desafio ESG: Melhoramentos mostra como conciliar crescimento econômico com práticas sustentáveis

Denis Kuck | 12 dez 2022
Rafael Gibini, CEO da Melhoramentos. Foto.Claudio Gatti
Denis Kuck | 12 dez 2022

A pandemia do coronavírus e a guerra na Ucrânia não foram nem de longe as primeiras crises mundiais enfrentadas pela Melhoramentos. Com 132 anos, a empresa já atravessou a Gripe Espanhola e duas Guerras Mundiais. Isso sem contar a Grande Depressão de 1929. Com tantos momentos de oscilação, a empresa aprendeu a lidar com situações extremas – entretanto, entende que os desafios estão no dia a dia.

Cumprir uma agenda ESG – sem desacelerar o crescimento econômico – faz parte destes desafios. 

A missão diária é difícil, e passa por mudar hábitos do consumidor e de parceiros; investir em inovação e comunicação; perceber novas oportunidades de negócios; adaptar-se ao mundo digital; aumentar a diversidade; e encontrar um propósito comum para as atividades da companhia. 

Para alcançar tudo isso, a empresa vive uma operação de transformação e criação de novas frentes de negócios. O processo foi resumido pela Melhoramentos em seu novo lema: ‘Fazer crescer para melhorar o amanhã’. 

CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

Na cabeça dos consumidores, a Melhoramentos é quase sinônimo de papel. Pudera: a empresa produziu o primeiro papel higiênico da América Latina e também o primeiro livro colorido. Seguindo a tradição de inovação, a aposta agora é na fibra de alto rendimento: espécie de celulose fabricada por um processo mais mecânico – e menos químico – que tem uma pegada de carbono menor e é compostável, ou seja, sofre decomposição biológica. 

A fibra é um exemplo dos esforços da companhia para crescer com foco na sustentabilidade. “Para produzir uma tonelada de celulose comum, são necessárias entre nove e 10 árvores, enquanto a mesma quantidade de fibra pode ser feita com entre cinco e seis unidades. Uma auditoria constatou que a pegada de carbono de nosso processo é 77% menor. Utilizamos bem menos produtos químicos, assim como menos energia e água”, explica Rafael Gibini, CEO da Melhoramentos desde 2019.

A celulose comum é essencialmente eucalipto, com menor quantidade de pinus, cortados em lascas. O material é jogado numa caldeira – onde são adicionados diversos elementos químicos – depois derretido, secado e prensado. A fibra de alto rendimento, por sua vez, utiliza toras maiores. A fabricação ocorre numa espécie de ralador, que tritura a madeira até deixar o bagaço. A fibra, vendida pela Melhoramentos para outras empresas, pode ser usada para produzir um papel mais rígido e embalagens mais resistentes. 

O pulo do gato, diz o presidente da Melhoramentos, é transformar uma dor em cura. 

“Reciclagem é uma solução, mas é complexo. Somente 1% do plástico produzido no Brasil é reciclado. Isso é uma dor do mundo e, ao mesmo tempo, uma baita oportunidade de negócios. O que a gente começou a pensar? Em um produto que não dependa da reciclagem. Um tipo de embalagem que se decompõe na natureza em alguns meses. Que, se for para um aterro, não causa impacto”.

PAPEL MENOS BRANQUINHO

A fibra de alto rendimento ainda precisa conquistar alguns corações de consumidores. 

Por utilizar menos produtos químicos, como o peróxido de hidrogênio, a celulose mecânica tem coloração mais amarronzada, conferida por uma substância da madeira chamada lignina. 

“Tem algumas aplicações, como papel higiênico, que o consumidor prefere a alvura do produto. Do ponto de vista ambiental, não é o melhor mundo, mas ele acha que o produto é melhor”, diz o executivo. 

Como superar essa barreira? Para Gibini, é preciso conscientizar consumidores e também  parceiros: “Tem muita gente que diz que sua embalagem é sustentável, mas é somente um pouco melhor do que o plástico, com elementos não renováveis. É um desafio orientar o consumidor. No negócio da Melhoramentos, o desafio é ainda maior, pois somos B2B. Preciso ajudar o meu cliente a educar os consumidores”, diz. 

Por outro lado, o CEO acredita que muitas empresas de bens de consumo, principalmente grandes multinacionais, de setores como cosméticos e proteínas vegetais, estão atentas para a sustentabilidade e redução do uso de embalagens plásticas. 

ALÉM DO LIVRO

Como uma empresa do ramo de papel pode seguir crescendo na chamada era digital? A resposta está no acompanhamento das mudanças da sociedade.

“Estamos desenvolvendo produtos que acompanham o livro. Por exemplo: histórias contadas de forma digital, uma plataforma que ajuda a engajar o público infantojuvenil, uma ‘gameficação’. A editora tem ainda um conceito de complementar as salas de aula, com pautas como sustentabilidade e inclusão”.

Gibini diz que os resultados já começam a aparecer, com crescimento de receita nos últimos dois anos: 

“Buscamos trazer uma pauta positiva ESG e ainda assim ser um negócio rentável”. 

CIDADES INTELIGENTES

Por fim, a Melhoramentos quer romper as fronteiras do mundo dos papéis. O plano a partir de agora é investir em cidades inteligentes e ecoturismo. Dona de 148 milhões de quilômetros quadrados de terras, nos municípios de Caieiras, Cajamar e Bragança Paulista, em São Paulo, e Camanducaia, em Minas Gerais, a empresa pretende elaborar um plano de desenvolvimento sustentável para esses lugares. 

“Nossa estratégia não é virar uma incorporadora ou construtora, mas fazer parcerias. Estamos falando com algumas empresas para trazer um conceito de cidade inteligente, pensando em mobilidade, saneamento, energia. Fazer isso, por exemplo, com energia renovável e reaproveitando a água da chuva. Quase uma cidade planejada”, diz o executivo. 



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