Indústria de papel descobre um personagem inusitado para a manter a produção de seu negócio sustentável: as abelhas

Maisa Infante | 2 set 2022 Maisa Infante | 2 set 2022

O que as abelhas têm a ver com a fabricação de papel? Tudo. Foi o que a WestRock, multinacional que fabrica papel e embalagens – produtos que tem base florestal -, descobriu na prática. “Todas as nossas terras estão na Mata Atlântica. Sabemos que a preservação da biodiversidade das matas nativas é um ponto de atenção e que a polinização por meio das abelhas tem um poder enorme na manutenção dessa biodiversidade”, diz Cynthia Wolgien,  diretora de Sustentabilidade, Comunicação Corporativa e Responsabilidade Social da companhia.

Em 2019, a empresa iniciou um trabalho junto a apicultores justamente para preservar estes insetos que são responsáveis pela polinização de 90% dos 107 principais cultivos agrícolas já estudados no mundo, segundo o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil. O resultado do trabalho é o Programa Mel Florestal. 

O programa nasceu por iniciativa da unidade de negócios florestais, que assumiu a responsabilidade de ajudar na preservação da biodiversidade existente nas áreas nativas preservadas da empresa. Ao todo, a WestRock possui 54 mil hectares de florestas em Santa Catarina e no Paraná, dos quais 47% são nativos. O restante se divide em plantações de Pinus e Eucalipto, usadas na extração de madeira para a produção de celulose. Levantamentos da empresa identificaram, em sua área, 608 espécies de plantas e animais, sendo 41 delas ameaçadas de extinção, além da preservação de 2.700 nascentes. 

MATAS NATIVAS MELHORAM A QUALIDADE DO MEL

O projeto da WestRock oferece acesso de apicultores às áreas preservadas da empresa nas cidades catarinenses de Bela Vista do Toldo, Major Vieira, Mafra e Três Barras, para que eles coloquem lá suas colméias e, depois, façam a retirada e a comercialização do mel produzido. 

A colheita do mel pode ser feita até duas vezes por ano, dependendo da florada. A primeira colheita acontece normalmente na primavera (novembro) e, quando há possibilidade de duas colheitas, a segunda é feita no verão (janeiro).

“Nossas florestas nativas estão longe de áreas de pastagem e agricultura e isso acaba resultando em um mel mais puro porque a abelha não vai ter acesso a áreas onde se usa, por exemplo, fertilizantes agrícolas. Então, grande parte do mel produzido nestas florestas também é orgânico”.

Neste ano, foram colocadas 90 colméias nestas áreas, que resultaram na produção de 16 toneladas de mel. Em 2021, esse número foi de 5 toneladas. 

Por determinação da WestRock, 10% do mel retirado das áreas nativas deve ser doada a entidades selecionadas pela companhia, como APAEs e hospitais filantrópicos, que são livres para usarem este produto como julgarem melhor. Algumas doam para famílias atendidas pela instituição. Outras, podem até comercializar o produto, caso seja viável. 

“Além de dar a oportunidade desses pequenos produtores terem acesso a essas áreas nobres, obviamente sem custo para eles, resolvemos ampliar esse benefício para instituições, principalmente aquelas relacionadas com diversidade e inclusão, fazendo o lado social e econômico desses pequenos apicultores ser desenvolvido e possível”.

DESAFIO ESG

Dentro da política ESG da WestRock, o programa Mel Florestal se enquadra em dois aspectos considerados fundamentais: ambiental e social.

A parte social se refere principalmente à geração de renda para as comunidades em que a companhia atua. Hoje, 50 famílias de apicultores são beneficiadas diretamente pelo programa, que é desenvolvido em parceria com 3 associações: Associação Norte Catarinense de Apicultores (Apinorte), Associação de Apicultores do Maquinista Molina (Molimel) e Associação de Apicultores Apis Verde Vale.

“Esses pequenos apicultores conseguem ter um mel de mais qualidade e, com isso, uma liberdade econômica maior. É verdade que os dados ainda são bem empíricos, baseados muito mais na declaração deles do que numa aferição de antes e depois, mas temos sinais de que esse acesso foi muito importante para que eles se desenvolvessem”.

No caso do impacto nas áreas nativas, a medição também é difícil, segundo Cynthia, mas não existe dúvida, dentro da companhia, de que há um benefício na conservação e, principalmente, na regeneração dessas áreas. 

Ela explica que as florestas plantadas de Pinus e Eucalipto se entremeiam, em forma de mosaico, com as áreas nativas, formando corredores ecológicos entre elas. 

“Nunca desmatamos uma área. Nosso plantios são feitos ao redor das florestas nativas, formando corredores ecológicos por onde os animais podem circular livremente. Esse fluxo entre floresta plantada e floresta nativa é extremamente benéfico para a fauna e a flora. Quando vamos colher a madeira depois de um ciclo, que pode ser de 7 a 12 anos dependendo da árvore, essa essa fauna se desloca naquele momento pra mata nativa”

O PAPEL DAS ABELHAS

Como as abelhas também circulam livremente entre as áreas, acabam fazendo polinização das florestas plantadas, porém, essa não é a intenção, já que a empresa possui uma área de inovação que desenvolveu sementes e mudas que crescem 40% mais rápido do que a média árvores semelhantes plantadas no Brasil. A ideia é realmente atuar com a preservação e a regeneração das áreas nativas. 

“Essa iniciativa tem muito a ver com regenerar, que significa mais do que não causar impacto negativo. É causar um impacto positivo. O Mel Florestal é um projeto assim porque estamos ajudando a natureza a se regenerar por meio dessas abelhas. É um pequeno exemplo de como, mesmo com um projeto relativamente pequeno, podemos fazer a diferença em diversos stakeholders, nesse caso os apicultores e as associações”. 



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