“No futuro, empresas serão escolhidas em função da sua participação na solução dos problemas”, diz Cloves Carvalho

Maisa Infante | 31 jan 2022
Cloves Carvalho, diretor-presidente do Instituto Votorantim. (Foto: Divulgação)
Maisa Infante | 31 jan 2022

O Instituto Votorantim quer quebrar o paradigma de que institutos ligados a empresas são órgãos voltados ao assistencialismo. Por isso, se coloca como um Centro de Inteligência Aplicada, que desenvolve soluções socioambientais geradoras de valor e impacto na sociedade. Isso significa promover benefícios sociais cada vez mais significativos e duradouros nas localidades de atuação da Votorantim, gerando um ambiente propício para a operação sustentável dos negócios.

Parte da Votorantim S.A – que tem no seu portfólio as empresas Votorantim Cimentos, CBA, Votorantim Energia, BV, Nexa, Citrosuco, Altre, Paz del Rio e AcerBrag, o Instituto atua diretamente na elaboração e implementação das estratégias ESG de parte dessas empresas, sempre buscando conectar as necessidades do negócio aos impactos positivos que pode causar na sociedade. Para Cloves Carvalho, diretor-presidente do Instituto Votorantim, essas ações colaboram para a sustentabilidade do negócio:

“No futuro, as empresas vão ser escolhidas pela sociedade em função da sua participação na solução dos problemas. A empresa que não tiver seu core business inserido na visão da contribuição dela para a sociedade, em pouco tempo estará fora do jogo.” 

Nesse sentido, o foco está não só em ajudar a traçar as estratégias socioambientais da companhia como ajudar a implementá-las e, ainda, medir o impacto dessas ações.

O Instituto está, por exemplo, ajudando a CBA a desenvolver um projeto de recuperação de matas ciliares em propriedades de pequenos agricultores para que eles possam regularizar o CAR (Cadastro Ambiental Rural). Isso vai gerar, no futuro, um crédito de carbono que a CBA vai oferecer para os clientes que quiserem compensar o carbono do alumínio que compraram. 

“É o que a gente chama de solução socioambiental ganha-ganha. Todo mundo que participa sai ganhando”, diz Cloves. 

R$ 153 MILHÕES PARA DESENVOLVIMENTO DOS MUNICÍPIOS

Para além das atuações pontuais dentro da estratégia ESG das empresas investidas pela Votorantim, o Instituto atua diretamente em centenas de municípios do Brasil buscando impacto em áreas como educação, emprego, habitação e, mais recentemente, por causa da pandemia, saúde. 

Os recursos para o desenvolvimento desses projetos vêm tanto das empresas do grupo como de parceiros. Em 2021, o volume de investimento foi de R$ 153 milhões, sendo que R$ 100 milhões vieram das empresas investidas, R$ 23 milhões correspondem ao custeio do instituto (recurso que vem diretamente da holding), e outros R$ 30 milhões de parceiros, como o BNDES.

Os projetos são desenvolvidos e executados em parceria com ONGs, startups ou consultorias e têm como objetivo qualificar o uso dos recursos, sejam públicos ou privados, e não simplesmente fazer uma doação ou assumir o papel de gestor público. Aqui, a sustentabilidade é fazer com que a partir da entrada do Instituto, pessoas e municípios consigam aprender uma forma eficiente de gerir recursos e projetos e, assim, ter e manter impacto positivo na sociedade mesmo quando o instituto não estiver mais lá. 

“Uma empresa não pode assumir o papel de governo porque isso não é sustentável. É preciso articular com o governo local e criar condições para que ali se sustente uma ação duradoura.”

As três principais áreas de atuação do Instituto Votorantim junto aos municípios são educação, geração de trabalho e renda e apoio à gestão pública municipal. Em 2020, por causa da pandemia, os esforços foram todos direcionados para a saúde, setor com o qual o Instituto ainda não havia se envolvido. 

Assim, os programas ganharam o viés dos cuidados com a saúde e combate aos impactos da pandemia. Na educação, por exemplo, o Instituto ajudou a criar alternativas para que o ensino remoto fosse mais eficiente, como o envio de tarefas por WhatsApp. 

Já o Programa de Apoio à Gestão Pública, feito em parceria com o BNDES, apoiou 261 municípios, incluindo muitos onde a Votorantim não tem operação. Entre as ações, estão assessoria no gerenciamento de crise, identificação de impactos e necessidades, e elaboração de soluções para enfrentamento da pandemia em eixos como governança e impactos fiscais.

INSTITUTO CRIA FUNDO DE COMBATE À PANDEMIA

Foi criado também um fundo de R$ 50 milhões, gerenciado pelo Instituto, com a finalidade de ajudar as autoridades públicas, instituições de saúde e entidades privadas na compra de itens como kits para teste, respiradores e outros equipamentos essenciais.

O impacto dessas ações, segundo Cloves, foi medido no final de 2021 – a partir da comparação de cada município com 4 ou 5 cidades semelhantes na mesma região – e mostrou que foi possível evitar 114 mil casos de Covid-19 e 3.600 óbitos nas cidades beneficiadas. 

“Quando você transforma isso em potencial de hospitalização em UTI, houve uma economia de quase R$ 450 milhões para os cofres públicos”, diz ele.

INSTITUTO GANHA NOVO FOCO: APOIO A STARTUPS

Se o Instituto já vinha buscando ampliar os impactos socioambientais dos seus projetos, os resultados da atuação durante a pandemia mostraram que esse é um caminho promissor. 

Nesse contexto, juntamente com a revisão do seu plano estratégico, no final de 2021, veio a ideia de criar um fundo de investimentos para ajudar a amplificar esse impacto.

Lançado em dezembro de 2021, o iV Ventures é voltado para apoiar startups no early stage, ou seja, quando as empresas encontram maiores dificuldades de financiamento e sobrevivência. Os recursos iniciais, de R$ 20 milhões, estão sendo investidos pelas empresas da Votorantim, incluindo o próprio Instituto.

O fundo vai investir em startups que atuem em 3 áreas: água e saneamento, economia de baixo carbono e habitação de interesse social. 

“Foram escolhas estratégicas porque são áreas transversais, que conversam com as principais estratégias ESG de todas as empresas da Votorantim.”

Os aportes serão realizados em duas fases, pré-seed e seed, e vão de R$ 250 mil a R$ 1,5 milhão por empresa. Além do apoio financeiro, o fundo quer fazer a conexão dessas startups com o mundo empresarial e com as empresas Votorantim, além de contribuir para a construção das teses de impacto dos negócios.

Essa atuação como investidor de impacto é uma das pontas que compõem o plano estratégico do Instituto Votorantim para os próximos quatro anos. As outras pontas incluem a atuação como implementador de projetos, consultoria para ESG e como um centro de geração de conhecimento. 

“Vamos atuar nessas quatro frentes, em um primeiro momento ainda ligados às empresas investidas e suas estratégias ESG, mas imaginando que a partir de 2025 vamos dar um voo mais amplo e começar a atuar com empresas fora da Votorantim também”, diz Cloves. 

O intuito de ampliar a atuação para além da Votorantim não é se desligar do grupo, mas sim ampliar o impacto gerado. 

“Não há demanda para que o instituto seja autossustentável financeiramente. Pelo contrário, a holding não abre mão de ter o instituto como seu braço institucional e quer ser vista como um investidor engajado, que influencia as empresas investidas.”



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