“Já abandonamos reuniões que pareciam tratar de temas que não combinavam com nossos princípios de integridade”

Renato Essenfelder | 22 dez 2021
Marcelo Oromendia, diretor-presidente da 3M do Brasil e VP de Governança para a América Latina. (Crédito: Divulgação)
Renato Essenfelder | 22 dez 2021

O ano de 2021 termina, para a 3M do Brasil, com um reconhecimento importante em relação à conduta da companhia. Pela sexta vez consecutiva, a multinacional conquista um dos prêmios mais prestigiados do país na área da ética corporativa, o Programa Empresa Pró-Ética, promovido pela Controladoria-Geral da União (CGU) para reconhecer corporações que atuam de forma íntegra e transparente em todos os seus negócios, com adoção voluntária de medidas para detectar e prevenir atos de corrupção.

A CGU recebeu 327 candidaturas de empresas nesta décima edição do prêmio. Do total, 67 foram premiadas pelas boas práticas. “Isso reforça que estamos no caminho certo ao pensar e agir de acordo com nosso princípio de que só existe um modo de se fazer negócios, que é da maneira correta”, conta o diretor-presidente da 3M, Marcelo Oromendia, nesta entrevista a NetZero.   

Oromendia, engenheiro mecânico e industrial de formação, desde novembro passou a acumular também o cargo de vice-presidente de Governança para a América Latina na 3M. Nascido na Argentina e naturalizado norte-americano, é um cidadão do mundo: entrou na multinacional há 36 anos e, desde então, morou nos EUA e em vários países asiáticos e latino-americanos – entre os quais, é claro, o Brasil.

Assumiu o comando local da empresa às vésperas da eclosão da pandemia de Covid-19, quando, aliás, a empresa se destacou com programas de apoio a hospitais e a outras entidades, uma política rápida de resposta aos colaboradores, colocados em home office, e a produção de máscaras inovadoras que, mesmo com demanda explosiva, tiveram os preços mantidos pela fabricante. 

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

NETZERO: A 3M acaba de ser reconhecida pela sexta vez no prêmio Empresa Pró-Ética, promovido pela Controladoria-Geral da União. O que esse prêmio significa para a companhia?

MARCELO OROMENDIA: Esse é um dos reconhecimentos mais valorizados na 3M porque o principal valor que direciona todos os negócios e iniciativas da companhia é a ética.

“Ética é o tema mais onipresente na empresa, repetido em todas as reuniões corporativas e apresentações de negócios, guiando nossos processos em todas as áreas, balizando todas as decisões.”

Globalmente, somos reconhecidos oito vezes consecutivas como uma das empresas mais éticas pelo Instituto Ethisphere. Aqui no Brasil, o Prêmio Empresa Pró-Ética é um dos maiores reconhecimentos às companhias engajadas na construção de um ambiente de negócios íntegros e transparentes.

Receber a certificação de empresa ética pela sexta vez nos enche de orgulho, fortalece nosso maior patrimônio, que é a reputação da marca 3M, e reforça que estamos no caminho certo ao pensar e agir de acordo com nosso princípio de que só existe um modo de se fazer negócios, que é da maneira correta.

Tudo fica ainda mais especial dentro do atual contexto de mercado que passa a valorizar tanto a governança, algo que já é nossa prioridade há décadas.

Como o comprometimento ético de uma grande empresa como a 3M pode ser percebido em todos os níveis da companhia, do chão de fábrica à alta liderança?

Desde 1988, a 3M possui um Código de Conduta nos negócios, que define as expectativas corporativas com relação ao comportamento ético e íntegro de todos os funcionários e terceiros que atuam em nome da companhia. A empresa dedica muita energia a essa prioridade gigantesca para garantir o cumprimento dessas expectativas, oferecendo treinamentos regulares e reciclagens periódicas, compartilhando exemplos práticos para auxiliar na assimilação dos conceitos, além de treinar também fornecedores e parceiros, influenciando nossa cadeia de valor.

Entre os pilares da cultura, está a “integridade inabalável”. As avaliações de desempenho e reconhecimentos passam sempre por considerar este comportamento ético em qualquer função.

Todo ano, realizamos o “Dia de Compliance”, com a participação de funcionários de todas as áreas. Todas as reuniões de comunicação da companhia possuem um tempo dedicado para o tema e sempre destacamos boas práticas de nossas equipes, celebrando uma atitude correta da equipe de vendas, uma atitude inclusiva de uma liderança, um comportamento honesto na operação.

Quais são os principais valores do Código de Conduta da 3M?

Ele contém seis princípios: seja bom, seja honesto, seja justo, seja leal, seja preciso e seja respeitoso. São princípios e valores que, à primeira vista, parecem simples, mas quando conectamos com nossa cultura interna se tornam poderosos, cheios de significado e importantes direcionadores para o comportamento de todos.

O código muda de país para país? Existem particularidades do modelo brasileiro?

Não há diferença entre países. Algumas particularidades são contempladas nos treinamentos e reciclagens periódicas que a empresa oferece sobre os temas conectados à ética e integridade. Esses treinamentos podem ser adaptados e refletem a realidade de cada país, trazendo sempre exemplos e casos fictícios para auxiliar na compreensão dos conceitos e orientações aos funcionários.

Como gerar engajamento dos colaboradores para atitudes éticas no dia a dia?

Primeiro, fazemos um esforço de educação muito grande, com atividades intensas de treinamento contínuo sobre nosso código de conduta. Em paralelo, consolidamos processos que sempre se baseiam pelos princípios de conformidade e que requerem ações específicas.

“Há décadas o comportamento íntegro faz parte das avaliações de desempenho como requisito obrigatório. Ao mesmo tempo, damos muita visibilidade para o tema, com realizações que comprovam comportamentos éticos, valorizando publicamente as conquistas.”

Nos últimos tempos, além das relações comerciais, de desenvolvimento de negócios e contratações de fornecedores e relacionamento com o governo, aceleramos muito em tópicos como sustentabilidade, diversidade e inclusão, totalmente alinhados com nossos princípios.

Fábrica de Sumaré (SP), onde fica a matriz da 3M no Brasil. (Crédito: Divulgação)

Historicamente, houve em algum momento uma decisão estratégica na 3M de colocar a ética nos negócios como prioridade?

A cultura evolui de maneira orgânica desde os tempos remotos, com a visão e atuação de gerações de líderes e funcionários que vêm contribuindo para nossa reputação ética ao longo de 119 anos. Em cada momento, os líderes da companhia decidiam de acordo com princípios que foram constituindo a cultura organizacional da 3M, até que um dia, nos anos 1980, se consolidou um código de conduta de aplicação ampla e transversal.

Então, foram nossos primeiros líderes que intuitivamente foram trazendo para a prática diária dos negócios o componente ético, da mesma forma que fizemos com inovação. Ao longo das décadas, viemos aperfeiçoando uma abordagem mais estratégica, instituindo novos processos e ferramentas, atualizadas de acordo com o ambiente de negócios, legislações e outros fatores.

De que mecanismos a 3M dispõe para garantir o comportamento ético dos colaboradores? Como fiscalizar isso em uma companhia gigante, com atuação em tantos setores?

Além de ter um bom Código de Conduta, é essencial liderar pelo exemplo e transparência, e isso é um requisito para toda a liderança da empresa, nos variados níveis. Acreditamos que a companhia deve cultivar uma cultura, alicerçada por política interna de combate à corrupção, que estabeleça responsabilidades a serem cumpridas por todos, independentemente do cargo.

“Desenvolvemos políticas para nossos processos, monitoramos seu cumprimento e fazemos auditorias regulares para avaliar eventuais não-conformidades e identificar oportunidades. Outros mecanismos que fazem parte deste ecossistema de ética e integridade são os treinamentos e reciclagens periódicas.”

Os treinamentos, aliás, são realizados também para fornecedores, pois é muito importante ter parceiros que comungam dos mesmos valores e princípios. Concluir estes treinamentos dentro do prazo solicitado é requisito obrigatório e monitoramos essa participação. A cada início de ano, pedimos a assinatura de cada funcionário com os compromissos éticos da companhia. Também pedimos para que todos registrem eventuais conflitos de interesse em sistema específico da companhia para este fim.

“Consideramos que criar canais sólidos para receber preocupações relacionadas a comportamentos éticos é fundamental para garantir um ambiente seguro, de confiança e abertura, se queremos uma organização saudável, positiva, colaborativa, sustentável. Então, algo que deixamos muito claro é que as pessoas devem se manifestar sempre quando enxergarem algo que não parece certo e que a 3M não tolera retaliação de qualquer natureza pela denúncia de uma preocupação ética.”

Em todos os treinamentos internos, indicamos os diversos caminhos possíveis que todos devem acionar caso sintam que algum dos princípios de conformidade da 3M está sob risco. Também divulgamos externamente nosso código e oferecemos formas de contato telefônico e ainda por um site que é gerido pela EthicsPoint, um serviço de denúncia independente contratado para receber manifestações internas e externas.

Outra importante parte deste ecossistema é o comitê de Compliance, composto por executivos seniores da empresa de áreas diversas, que contribuem na análise das situações e tomada de decisões, sempre alinhadas ao Código de Conduta, aos valores da empresa e à legislação local.

Existem metas e bônus atrelados a indicadores ESG na 3M? Como funcionam?

Em nosso relatório anual de sustentabilidade estão sempre destacados nossos objetivos em várias dimensões e também os avanços conquistados pela companhia. Temos organizado indicadores em três grandes blocos: Ciência para Economia Circular, Ciência para o Clima e Ciência para Comunidades.

“Em 2021, inovamos com a publicação de nosso primeiro relatório específico de diversidade, equidade e inclusão. Também foi um ano especial porque nos comprometemos com metas ainda mais ambiciosas para os indicadores ESG, definindo um investimento de US$ 1 bilhão nos próximos 20 anos para acelerar as transformações da companhia na direção da sustentabilidade.”

Sobre a remuneração, buscamos alinhá-la com os resultados de negócio, financeiros e não-financeiros. Temos um Comitê de Remuneração Global que revisa periodicamente essas questões.

A 3M já deixou de fazer negócios por causa de conflitos relacionados ao seu Código de Conduta? Como foi a situação?

Certamente, ao longo de nossa história, deixamos de fazer negócios por conflitos com nosso Código de Conduta.

“Já abandonamos reuniões que pareciam tratar de temas que não combinam com os nossos princípios de integridade; já descredenciamos canais de venda que não se sintonizaram com valores éticos; já descontinuamos produto que não teria o melhor impacto para a sustentabilidade.”

Para conquistarmos negócios, não há possibilidade alguma de nos desviarmos de nosso Código de Conduta, que é parte dos valores da empresa, uma das principais fontes de nossa reputação e uma enorme vantagem competitiva. A ética deve vir sempre em primeiro lugar.

É mais difícil estabelecer relações éticas com entes públicos ou com parceiros da iniciativa privada?

Ao longo da minha carreira nesta empresa global e com a oportunidade de ter trabalhado em vários países, com diferentes culturas, seja no mundo privado ou público, sempre demonstramos a importância de agir com integridade e transparência para o bem comum das partes.

Para entidades públicas, existem regras e passos específicos para guiar nossos relacionamentos. Mas, de maneira geral, independentemente de ser uma relação com entes públicos ou privados, repetimos que só existe uma maneira de fazer negócios, a forma correta. Essa é a premissa que norteia os nossos negócios e conduta há décadas, no Brasil ou em qualquer outro local onde a 3M atua.

O senhor avalia que a sociedade percebe esse tipo de preocupação? E os investidores?

Felizmente, essa preocupação ética vem crescendo nas sociedades pelo mundo inteiro e o Brasil não é exceção. Clientes dedicam muito mais análise para suas escolhas por produtos e serviços e querem saber mais de sua origem, da cadeia de valor envolvida, dos valores com os quais aquela marca se compromete. Profissionais não aceitam trabalhar para uma empresa que é complacente com ilegalidades e que não valoriza nem respeita as pessoas, a diversidade, o planeta. Hoje se tem a convicção de que as inovações, área em que somos referência, precisam ser sustentáveis.

“Como sabemos, a direção de incorporar sustentabilidade como prioridade dos negócios ganhou mais impulso com a atitude do mercado financeiro em estabelecer critérios para alocação de recursos que considerassem práticas ambientais, sociais e de governança. Os investidores têm um papel relevante para avançarmos nessa transformação positiva de nossos modelos de negócio para um capitalismo mais consciente.”

Na 3M, colocamos a aceleração em sustentabilidade como uma das três maiores prioridades da companhia. Sabemos que não é mais possível seguirmos como sociedade baseados no modelo da economia linear. Criamos metas ambiciosas para neutralizar a emissão de carbono até 2050, mas já buscando reduzi-la em 50% até 2030. Planejamos reduzir em 25% o consumo de água nas nossas operações fabris até 2030 e reduzir a dependência do plástico virgem de origem fóssil até 2025.

Todos os nossos produtos, desde 2019, precisam apresentar valores tangíveis de sustentabilidade. Há muitos compromissos com metas de diversidade e inclusão, investimentos sociais, e estamos trabalhando forte com movimentos externos como o Mover para equidade racial, o REIS para inclusão de pessoas com deficiência, os Princípios do Empoderamento Feminino e os compromissos das empresas com os direitos LGBTI+.

Tudo isso acontece sobre o alicerce da governança que nos conduz pelo caminho da integridade inabalável em todas as decisões que tomamos na 3M.

Durante a pandemia, de que maneira a 3M exercitou esses valores?

Desde o início de 2020 nosso comitê de crises passou a fazer a gestão diária das complexidades e incertezas que vieram com a Covid-19. Imediatamente, nos organizamos para quebrar barreiras e viabilizar a migração para home-office de todos os nossos funcionários administrativos. A prioridade sempre foi e é preservar a saúde e segurança de nossos funcionários. Nas fábricas, adaptamos instalações e processos para garantir a continuidade das operações.

Investimos fortemente no aumento da capacidade de produção de máscaras para atender à demanda explosiva e, mesmo com aumento de custos, mantivemos os preços de nossos produtos. Atuamos globalmente para combater fraudes e falsificações, bem como criamos uma linha hotline antifraudes. Também contribuímos com doações significativas. Foram mais de 550.000 máscaras para cerca de 35 hospitais e mais de R$ 5 milhões para impacto social e de saúde para parceiros como a United Way e a Unicamp.



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