Metha e multinacional Asja vão produzir pela 1ª vez no Brasil energia a partir de aterro sanitário para abastecer cliente residencial

Julia Moioli | 8 abr 2022
Victor Soares, CEO da Metha Energia. (Foto: Divulgação)
Julia Moioli | 8 abr 2022

Como parte da população brasileira, o consultor financeiro Victor Soares e o engenheiro Diego Fraga sofriam com as altas conta de luz e faziam de tudo para economizar: não esqueciam nenhum aparelho ligado, tomavam banhos rápidos e engajavam a família na redução de consumo. No final do mês, o resultado era frustrante e o valor cobrado sofria pouca redução.

Incomodados com isso, enxergaram uma oportunidade de negócio: conectar consumidores residenciais a usinas renováveis, gerando descontos na conta de luz. Foi assim que, em 2017, surgiu a Metha Energia, que funciona como um elo da cadeia, conectando as empresas que montam a estrutura de geração de energia elétrica renovável ao cliente final.

“Somos uma startup que, por meio de uma plataforma, muda a maneira como o cliente final se relaciona com os serviços de energia, entregando uma energia elétrica mais barata, mais simples e mais sustentável”, define o cofundador Victor Soares.

Em seu quinto ano no mercado, a startup já atende uma base de 75 mil clientes em Minas Gerais e acaba de fechar uma parceria com a empresa italiana de energia renovável Asja para fornecer energia elétrica a uma usina de biogás construída em um aterro sanitário. A proposta é chegar em mais 13 mil residências do estado. Isso, graças com capacidade para produzir 1,8 milhão kWh por mês e, por ano, deixar de jogar 473.300 toneladas de gás carbônico na atmosfera. É a primeira vez que a energia gerada em aterros sanitários chegará ao consumidor residencial no Brasil. 

O negócio da Metha funciona graças a uma recente legislação energética que regulamenta e determina parâmetros para esse tipo de processo. Funciona da seguinte maneira: o time comercial da startup busca parceiros (geralmente empresas ou pools de pessoas físicas) que investem na construção de usinas de geração de energia renovável e estabelece contratos de longo prazo para explorar 100% de sua produção pelo sistema de geração distribuída.

A energia dessas usinas – que, no caso da parceria com a Asja, é gerada pela decomposição natural do lixo, que produz biogás – é colocada na rede de distribuição do sistema elétrico local, gerando créditos que são distribuídos para os clientes cadastrados na plataforma da startup.

Usina da Asja em parceria com a Metha, em aterro sanitário de Sabará (MG). (Foto: Bruno Soares/Divulgação)

Quem adere ao serviço, que é gratuito e regulamentado pela Aneel, passa a receber todos os meses um boleto Metha que, segundo Soares, é mais fácil de entender que os tradicionais, sem casa decimal ou siglas complicadas.

“Oferecemos desconto sobre energia de fonte renovável, que reduz nosso impacto no mundo. No ano passado, nossos clientes deixaram de jogar mais de 1.200 toneladas de gás carbônico na atmosfera. Quando eu mostro isso, as pessoas começam a ter um olhar mais crítico para o assunto.”

Além do crédito, que chega a abater até 15% do valor das contas, garantindo a economia que Victor e Diego buscavam, o cofundador da startup destaca a interface tecnológica, criada internamente, que é mais eficiente e transparente, mostrando exatamente o consumo do cliente.

Para cada crédito transacionado na plataforma, a Metha retém da usina uma taxa pelo serviço prestado. É dessa maneira que consegue atuar sem cobrar mensalidade ou forçar qualquer adequação ou modificação à maneira que o cliente já consome o serviço de energia.

CRESCIMENTO EXPONENCIAL E EXPANSÃO PARA SP

Como não faz investimentos em ativos e não atua em engenharia civil, a Metha não precisa acessar grandes quantidades de capital. Seu grande desafio é justamente encontrar clientes para consumir energia das usinas sustentáveis.

“Por um lado, não existe ninguém que não queira pagar menos pela energia elétrica”, diz Soares. “Por outro, é complicado conquistar a confiança do brasileiro: primeiro porque está tão acostumado a golpes que sempre desconfia; segundo porque desde a época dos nossos avós recebemos a mesma fatura padrão de energia.”

Para ter escalabilidade e atingir o número de pessoas que atende hoje, a startup lança mão de um processo de captação e contratação 100% digital, sem meio físico ou vendedor batendo de porta em porta. Para isso, atua em duas frentes: criação da marca com marketing digital, patrocínio de eventos e motivação para que os clientes antigos tragam novos.

Ao contrário do que ocorre na Europa, onde é mais fácil vender energia limpa por conta do alto volume proveniente da queima de carvão e óleo, no Brasil o apelo não é tão grande, pois a maior parte da matriz vem do hidro. “O que as pessoas não sabem é que a cadeia produtiva de hidrelétricas gera uma pegada de carbono gigantesca”, aponta.

“A Metha mostra que energia não é só aquela fatura que você recebe todos os meses, mas algo absolutamente essencial. E, sim, você pode ser protagonista nesse mercado e não só sentar na platéia e observar.”

O foco na pessoa física tem tudo a ver com a dor inicial e individual dos cofundadores, mas esse olhar específico garantiu o grande diferencial da Metha em um mercado onde players altamente capitalizados investem dezenas de milhões na construção de usinas e buscam maneiras fáceis de escoar essa energia. Ou seja, procuram poucos grandes consumidores.

“Percebemos que, em vários outros setores, as inovações vieram ao se empoderar o cliente na ponta final e seguimos esse modelo no de energia. Funcionou tão bem que ganhamos concorrentes ao mostrar para outras empresas, que antes focavam em pessoa jurídica, que era possível e até interessante focar na pessoa física.”

A estratégia tem funcionado. A Metha tem parceria com mais de 30 usinas pertencentes a grandes grupos nacionais e internacionais e pools de pessoas físicas e conta com clientes em mais de 480 cidades do estado de Minas Gerais. No ano passado, cresceu quase dez vezes. Em 2022, quer aumentar seu negócio em mais cinco vezes. Este ano será ainda marcado pelo início de sua expansão geográfica. No segundo semestre, deve chegar a São Paulo, o estado que lidera o consumo de energia elétrica no país.



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