“Não existe ESG em grande escala sem digitalização”, diz Juliana Minorello, do Movimento Inovação Digital

Não há dúvidas de que boa parte da economia mundial foi salva do período pandêmico pelas bênçãos da tecnologia: as empresas que contaram com recursos de trabalho, atendimento, vendas e entregas online, se sobressaíram e conseguiram sobreviver aos tempos mais duros de lockdown. No Brasil, entretanto, a digitalização dos processos ainda caminha a passos lentos entre a grande maioria das companhias: apenas 11% de todo o varejo brasileiro, por exemplo, está no comércio digital.

O número é do Movimento Inovação Digital (MID), entidade que reúne as principais plataformas da economia digital, entre elas marketplaces, e-commerces, healthtechs, bancos digitais, fintechs, meios de pagamento e investidores. O objetivo de trazer cada vez mais empresas para a digitalização de seus processos. “O número maior de empreendimentos no Brasil é de micro e pequenas empresas, entre elas há um volume alto de empresas ainda não digitalizadas e outras que estão parcialmente”, explica Juliana Minorello, líder do comitê de ESG no Movimento Inovação Digital, que já conta com mais de 140 empresas, como Mercado Livre, 99, Americanas, Quinto Andar, Loft, C6, Leroy Merlin, Porto Seguro, entre outras.

“Queremos mostrar que, ao combinar inovação e digitalização, você ganha uma eficiência em escala, o que reflete também no impacto que as empresas podem ter em relação aos objetivos ESG. Sem essas ferramentas, o potencial das iniciativas ESG fica limitado”.

O comitê de ESG do grupo procura mostrar que todos os aspectos da digitalização são capazes de melhorar as práticas socioambientais do empreendimento. “Em primeiro lugar, ao digitalizar os processos, você automaticamente aumenta a eficiência e diminui desperdícios”. 

Juliana lembra também dos benefícios sociais, não apenas ambientais. “Com a digitalização, você permite que determinados serviços atinjam localidades que antes eram desprovidas do serviço físico. Um exemplo claro foi a saúde: na pandemia, muitas empresas seguiram com a telemedicina, inclusive ofertando receitas digitais. Isso permitiu a muita gente ter acesso ao atendimento de saúde.  A digitalização permite também uma democratização do acesso a bens e serviços em razão do preço. Se você economiza recursos, seu custo também diminui e seu produto pode chegar ao mercado por um preço mais acessível. Outro exemplo: temos uma empresa digital parceira que garante que diversos produtos cheguem ao consumidor com preços melhores porque eles fazem compras grandes, em atacado. Essa compra em atacado foi possível pela conexão de consumidores interessados em determinado produto por meio das redes sociais.  Como este, vários outros serviços estão sendo possíveis graças à digitalização”, afirma. 

Na parte de governança, a tecnologia deixa cada vez mais clara a transparência interna e o relacionamento com o consumidor. A comunicação online com a empresa pode ser em tempo real, fazendo com que as soluções cheguem mais rápido e com mais clareza.

“Com a digitalização, há uma simetria de informações para o consumidor e para a sociedade. Desta forma, eles podem estar atentos se você realmente cumpre os propósitos de ESG”.

DESAFIOS

Parece um pouco óbvio dizer que é preciso substituir o papel carbono e o bloquinho de notas por um software. Entretanto, para muitos empreendedores ainda há dificuldades de implantação e outros tantos não conseguem transitar bem no ambiente digital.

Por isso, o MID está lançando a Universidade Digitalize, que reúne diretores das plataformas digitais mais utilizadas para vendas online para ofertar em um único local cursos de capacitação aos pequenos e médios empreendedores utilizarem as plataformas digitais, sem necessariamente serem especialistas em tecnologia. A iniciativa já conta com conteúdo de empresas digitais, como Google, Hotmart, Shopee, Loggi, entre outras.

“Não dá para pensar em ESG com escala sem digitalização. Você pode até ter um impacto de sustentabilidade, mas não conseguiria chegar a tantas pessoas em tão pouco tempo. As iniciativas de impacto que podem ocorrer no mundo físico são mais limitadas quando comparamos ao potencial que podemos ter agregando o mundo digital. O impacto do ESG é propulsionado com a digitalização. Considerando a emergência climática e social que vivemos, temos pressa e precisamos contar com a tecnologia para correr contra o relógio”.