“Estratégia da matriz energética com fontes renováveis é ponto inegociável para Vivo”: o plano de inaugurar 5 usinas por mês no país

Maisa Infante | 14 mar 2022
Caio Guimarães, diretor de Patrimônio da Vivo. (Foto: Divulgação)
Maisa Infante | 14 mar 2022

É praticamente impossível pensar o mundo atual sem o tráfego de dados. A conversa no WhatsApp, a transação bancária via aplicativo e o delivery que chega na porta de casa depois do pedido com um clique são possíveis porque os dados permitem a comunicação.

Para que tantos dados circulem são necessárias antenas, cabos e servidores que precisam de muita energia para funcionar. Por isso as empresas de telecomunicação são grandes consumidores de energia e têm nesse ponto um desafio de sustentabilidade.

A Vivo, que atingiu 99 milhões de acessos em 2021, está investindo em geração distribuída (energia elétrica gerada no local de consumo ou próximo a ele) por meio da construção de usinas solares, hídricas e de biogás.

Já são 23 usinas inauguradas e a previsão é inaugurar mais 62 ainda em 2022, totalizando 85 em 24 estados mais o Distrito Federal. Quando concluídas, elas vão responder por 89% do consumo em baixa tensão da companhia, como antenas, lojas e escritórios. Juntas, devem produzir cerca de 711 mil MWh/ano de energia, o suficiente para abastecer todo o consumo de uma cidade de até 320 mil habitantes.

Desde 2018 a Vivo é considerada uma empresa que usa 100% de energia renovável. Foi quando passou de um consumo de 26% de fontes renováveis – obtidas tanto no mercado livre como em geração distribuída – para 100%, por meio da aquisição de certificados I-RECs (International Renewable Energy Certificates) de fonte eólica. 

“A Telefônica, como empresa global, sempre teve como diretriz buscar o consumo de energia 100% renovável. Uma vez que atingimos isso, não dá mais para voltar atrás”, explica Caio Guimarães, diretor de Patrimônio da Vivo.

A aquisição dos certificados permitiu à Vivo antecipar em 12 anos sua meta de consumo totalmente renovável, que estava prevista para 2030, além de contribuir para a redução de 70% das emissões de CO2 com relação a 2015. Desde 2019 a Vivo é considerada uma empresa neutra em carbono.

Agora, conforme as usinas entram em operação, a ideia é diminuir a compra destes certificados.

Na entrevista a seguir, Caio Guimarães fala sobre os desafios dessa jornada em busca de fontes renováveis de energia. 

NETZERO: Como e por que a Vivo decidiu investir em projetos de geração distribuída de energia?

CAIO GUIMARÃES: Para trafegar dados, usamos antenas que consomem muita energia. Temos mais de 99 milhões de acessos e mais de 35 mil pontos de consumo [destes, 30 mil são antenas], então, é natural que tenha um aumento da exigência de tráfego. Mas não podemos aumentar o consumo de energia na mesma proporção que aumentamos o tráfego de dados. Por isso trabalhamos em diversas frentes de eficiência energética. Uma delas tem a ver com melhorar a tecnologia dos equipamentos e da infraestrutura para reduzir o consumo. Outra vertente tem a ver com ser mais eficientes em tarifas e uso de energia renovável, que é onde entram os projetos de Geração Distribuída. Na verdade, são projetos que se complementam.

A Vivo já é considerada uma empresa 100% renovável em  energia por causa da compra de certificados I-Recs. Por que a empresa decidiu por essa estratégia?

A Telefônica, como empresa global, sempre teve como diretriz buscar o consumo de energia 100% renovável. Em 2018, cerca de 26% da nossa energia vinha de fontes renováveis, principalmente pela compra no mercado livre. Nesse mesmo ano começamos o projeto de Geração Distribuída e, em paralelo, decidimos comprar os certificados buscando atingir essa meta. Naquele momento, o mercado de certificados ainda estava em amadurecimento e conseguimos comprar em uma condição favorável. Com isso, a Vivo foi a primeira telecom do Brasil e a primeira empresa do Grupo Telefônica fora da Europa a ser 100% renovável. Dessa forma, chegamos em um ponto sem volta.

A estratégia da matriz energética com fontes renováveis, sempre pautada pela sustentabilidade, é um ponto que não se negocia mais. O 100% renovável não volta para trás.

A ideia nunca foi se manter 100% renovável apenas com os certificados?

Não. Queríamos ser 100% renováveis e entendemos que era um momento propício para comprar os certificados. Mas a gente já tinha esse planejamento de fazer as usinas de geração distribuída. E a ideia sempre foi usar menos créditos de energia na medida em que avança o projeto de geração distribuída.

Usina solar no Distrito Federal foi construída em parceria com a Athon Energia. (Foto: Divulgação)

Quais são as vantagens de operar com geração distribuída? 

Tem uma questão social, porque essas usinas geram empregos durante a construção e também durante a operação, ou seja, tem um impacto no entorno de onde elas são construídas. Isso está muito alinhado com as nossas práticas ESG, que não são só de sustentabilidade, mas são sociais também. Outro ponto é que reduzimos a carga no sistema de distribuição porque estamos gerando perto do ponto de consumo.

Tem ainda a questão financeira, porque conseguimos, via de regra, ter uma tarifa menor do que a tarifa do mercado cativo. Falando de grandes números, há uma redução de cerca de 10% na nossa conta. Então, a gente também se beneficia financeiramente, embora não seja o principal driver. 

Quanto a Vivo está investindo na construção dessas usinas?

O investimento na construção é 100% do parceiro. Como contrapartida, temos contratos de longo prazo, de até 20 anos, para que os parceiros tenham o retorno desse investimento. 

A Vivo diz que vai ter 85 usinas operando até o final de 2022. Hoje tem 23. Isso significa que precisam inaugurar 62. Todas já estão em construção? 

Temos 23 inauguradas e as demais estão em diferentes estágios. Algumas já estão com parecer de conexão feito, outras com licenças em andamento, outras aguardando conexão da concessionária. Temos alguns desafios, seja por questão da logística de suprimentos, seja pela pandemia que gerou alguns atrasos e até pelo volume de projetos, que tem crescido bastante.

Mas parte da nossa estratégia de ter esse projeto gigante de geração distribuída tem a ver com a escolha dos parceiros. Estamos trabalhando com empresas robustas, com uma capacidade financeira que foi bem avaliada antes de fecharmos o pleito. Foi uma escolha que teve critérios técnicos, financeiros e de compliance. É uma série de mecanismos que usamos para avaliar um fornecedor que, de certa forma, compensam o risco. Seguimos acreditando que vamos fechar 2022 com todas as usinas. 

A maioria das usinas é de energia solar, mas tem algumas que são hídricas. Qual o impacto que elas causam no meio ambiente?

O impacto dessas hídricas é incomparavelmente menor quando olhamos para o modelo de grande porte. Não tem as represas e os reservatórios que alagam áreas extensas. Elas aproveitam o curso natural das águas e as quedas naturais do desnível dos rios. Você visita as usinas e passa quase despercebido. 

O que muda com a chegada do 5G? É uma tecnologia que consome mais energia?

De forma geral, é de se esperar que tenha um aumento de consumo porque vai ter um aumento de pontos para manter o sinal contínuo. Por outro lado, você não só cresce o 5G, mas também desliga tecnologias obsoletas. Então é, na verdade, um crescimento que é uma diferença entre o que você cria e o que você desliga.

De qualquer forma, independentemente do que vai ser esse impacto, entendemos que o 5G vem de qualquer jeito. Então, trabalhamos em paralelo fazendo tudo que a gente pode para reduzir o consumo e ter fontes renováveis. Em algum momento, lá na frente, vamos entender o quanto isso precisa ser mais intensivo ou menos intensivo. O que a gente espera é que o nosso programa nos permita lidar com esse aumento.

Você disse que percebeu um aumento geral na demanda por geração distribuída. O Brasil tem áreas disponíveis para construir tantas usinas?

Aí tem uma equação que leva em conta a disponibilidade de área e o preço da tarifa. Em Minas Gerais, por exemplo, tem disponibilidade de área e uma tarifa que é das mais altas do Brasil. A equação funciona super bem. Já em São Paulo, tem menos disponibilidade de terra, ou uma terra mais cara, para uma tarifa que é uma das mais baixas. Já é uma equação bem mais difícil.

Quando olhamos para o Brasil, entre um extremo e outro, existem diferentes graus de avaliação, disponibilidade de terra e preço da tarifa. Por isso, alguns lugares tem uma condição financeira melhor, outros não tão boa. No caso da Vivo, quando eu coloco os 85 no mesmo prato, a gente ainda tem um benefício. 

O projeto de geração distribuída vai ser responsável por 90% do consumo em baixa tensão. Por que não se usa renovável em alta tensão?

Por conta de uma questão regulatória, as unidades em baixa tensão não podem operar no mercado livre, pelo menos por enquanto. Então, a alternativa acabou sendo a geração distribuída para que a gente realmente aumentasse o uso de energia renovável. No caso de média e alta tensão, que são centrais e prédios administrativos de grande porte, saímos do mercado regulado e vamos para o mercado livre comprar de grandes players. No caso da Vivo, a escolha é por comprar essa energia de fonte renovável. 



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