O que é agricultura regenerativa?

Tiago Jokura | 29 set 2022 Tiago Jokura | 29 set 2022

Como diz aquela famosa propaganda: “agro é tudo”. Logo, considerando a afirmação verdadeira, é possível afirmar que a agricultura também pode ser uma atividade que, em vez de causar danos ambientais e prejudicar biomas, se insere no ciclo da natureza sem obrigatoriamente causar impactos negativos.

Como o próprio nome diz, esse tipo de cultivo prioriza a regeneração dos solos ocupados para produção, bem como a manutenção do equilíbrio ecológico do ambiente em que se instala. Há quem amplie o conceito para além da esfera ambiental, avaliando impactos sociais e econômicos decorrentes da atividade agrícola para caracterizar o agro como regenerativo – e alinhado a uma agenda ESG.

Os resultados esperados de uma prática agrícola regenerativa, portanto, envolvem, além da preservação do solo e da promoção de biodiversidade, a manutenção do ciclo da água, o sequestro de carbono, a segurança financeira e alimentar das famílias envolvidas com o cultivo e outros fatores socioambientais e econômicos benéficos – tudo isso sem deixar de produzir alimentos nutritivos e que resultem em lucro.

E quem criou o conceito?

O termo é atribuído ao jornalista e editor Robert Rodale no início dos anos 1980. O norte-americano defendia que os sistemas naturais fossem restabelecidos em áreas de cultivo agrícola.

Em seu artigo Breaking New Ground: The Search for a Sustainable Agriculture (“Desbravando novas terras: a busca por uma agricultura sustentável”, em tradução livre), de 1983, Rodale afirma que:

“Os métodos agrícolas convencionais tentam dominar a natureza. Essa abordagem está levando os agricultores à autodestruição. Se os agricultores usarem a agricultura regenerativa, a agricultura passaria de uma batalha contra a natureza para a arte de encorajar a natureza a liberar o máximo de benefícios para o uso humano com o menor esforço possível.”

Existem bons exemplos de agricultura regenerativa?

Sim. Embora a definição seja muito ampla, uma agricultura pode ser considerada regenerativa se alia produtividade com recuperação do solo, preservação do ambiente, conservação de espécies polinizadoras, captura de carbono e retenção de água no solo.

Esses objetivos podem ser alcançados por meio inúmeras ações, como:

– Diminuição do uso de arado;

– Redução do uso de defensivos (agrotóxicos);

– Manter árvores e outras plantas nas áreas de pastagem;

– Introduzir plantas de cobertura nas áreas de cultivo;

– Promover rotação de culturas;

– Zelar pelo bem-estar animal;

– Oferecer condições dignas de trabalho no campo.

Como colocar a agricultura regenerativa em prática?

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) cinco princípios servem como orientação para implementar uma agricultura sustentável e a segurança alimentar no planeta:

1. Aumentar a produtividade, a taxa de emprego e adicionar valor aos sistemas de produção alimentar;

2. Proteger e melhorar os recursos naturais;

3. Melhorar os meios de subsistência e promover a inclusão e o crescimento econômico;

4. Aumentar a resiliência de pessoas, comunidades e ecossistemas;

5. Adaptar a governança a novos desafios.

Mais objetivamente, o documento Transforming Food and Agriculture to Achieve the SDGs (“Transformando Alimentos e Agricultura para Alcançar os ODS”, em tradução livre) propõe 20 medidas práticas para contemplar esses itens, todos alinhados a pelo menos um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU):

Princípio 1

1. Facilitar o acesso a recursos produtivos, finanças e serviços

2. Conectar os pequenos produtores aos mercados

3. Incentivar a diversificação da produção e da renda

4. Promover o conhecimento dos produtores e desenvolver suas capacidades

Princípio 2

5. Melhorar a saúde do solo e restaurar a terra

6. Proteger a água e gerenciar a escassez

7. Integrar a conservação da biodiversidade e proteger as funções do ecossistema

8. Reduzir perdas, incentivar a reutilização e reciclagem e promover o consumo sustentável

Princípio 3

9. Empoderar as pessoas e combater as desigualdades

10. Promover direitos de posse seguros

11. Usar ferramentas de proteção social para aumentar a produtividade e a renda

12. Melhorar a nutrição e promover dietas equilibradas

Princípio 4

13. Prevenir e proteger contra crises: aumentar a resiliência

14. Preparar-se para reagir a crises

15. Abordar e adaptar-se às mudanças climáticas

16. Fortalecer a resiliência do ecossistema

Princípio 5

17. Reforçar o diálogo e a coordenação de políticas

18. Fortalecer os sistemas de inovação

19. Adaptar e melhorar o investimento e as finanças

20. Fortalecer um ambiente propício e reformar a estrutura institucional



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