Que destino você deu ao seu celular antigo? Startup se especializa em comprar aparelhos usados para remanufaturar ou vender peças

Julia Moioli | 18 abr 2022
André Frigatto, sócio da CelBack. (Foto: Divulgação)
Julia Moioli | 18 abr 2022

Que fim levou seu aparelho celular antigo quando você comprou um modelo mais moderno? Mais de 85% dos brasileiros têm como hábito manter esses e outros eletroeletrônicos em casa, mesmo sem uso, por mais de dois meses antes de jogá-los fora, mostra um levantamento realizado no ano passado pela Green Eletron, que coordena serviços de coleta, transporte e destinação ambientalmente adequada desses produtos. Por ano, são descartados mais de 2 milhões de toneladas de lixo eletrônico no país e apenas 3% desse volume é reciclado.

Os números que garantem ao Brasil o infame título de maior produtor de lixo eletrônico da América Latina (e quinto do mundo) trazem prejuízos diretos ao meio ambiente – metais e outros componentes dos equipamentos podem contaminar lençóis freáticos, oceanos e rios – e, no caso dos telefones celulares, representam um desperdício enorme: a maior parte das peças e componentes poderia ser reciclada e usada como matéria-prima para outras indústrias.

Com a filosofia de promover essa reciclagem mas também o reuso de telefones, que cresce como solução econômica num cenário mundial de escassez de matéria-prima, nasceu no ano passado a plataforma de trade-in CelBack.

A lógica do negócio não tem mistério: intermediada por lojas de varejo, a startup recebe os celulares antigos e oferece uma espécie de vale na aquisição de outro modelo. Esses aparelhos são, então, revendidos, se ainda estiverem em condições de uso, ou desmontados. Neste caso, suas peças passam a ser utilizadas em outras indústrias. A ideia é que nada ou quase nada desses equipamentos vá parar nos aterros sanitários. “Apenas em 2022, já conseguimos dar um novo destino para 22 mil aparelhos”, conta André Frigatto, sócio da startup.

“As empresas costumam pensar muito em como seguir metas de ESG na produção. Nós pensamos no meio: como eu posso incentivar a cadeia inteira a fazer isso?”

A cadeia, no caso, começa nos pontos de vendas de parceiros varejistas como Casa do Celular, HS Telecom, Eletrosom e Novo Mundo. Ali, clientes em busca de um celular novo (ou de outros eletroeletrônicos) podem usar seu aparelho usado como parte do pagamento. A startup garante que a avaliação é simples e dura 20 segundos: o vendedor da loja recebe uma comissão ao acessar a plataforma CelBack e realizar uma oferta, cujo valor varia de acordo com fabricante, modelo e estado de conservação – o valor fica, em geral, em torno de 270 reais.

O passo seguinte é o cadastramento do equipamento (pelo IMEI, o número de identidade dos telefones celulares, garante-se que não haja problema na base da Anatel) e dos dados do cliente. O telefone é “resetado” na frente do cliente e passa a se tornar um ativo da CelBack. A loja recebe um valor para guardá-lo até sua retirada.

RASTREIO COMPLETO

Em tempos de Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), a segurança das informações dos clientes é outro ponto de atenção para a startup, que utiliza uma plataforma específica de segurança cibernética para rastrear todo o processo e garantir sua segurança.

Celulares trocados pelos consumidores são remanufaturados e colocados à venda como usados.(Foto: Divulgação)

Todos os aparelhos usados que são comprados pela CelBack seguem para seu escritório em São Paulo, onde passam por uma triagem, que determina qual laboratório associado assumirá a responsabilidade de remanufaturá-los, de acordo com os reparos necessários.

Quando estão em condições perfeitas de funcionamento – e já acondicionados em embalagens feitas a partir de papelão com certificado de origem, de madeira de reflorestamento ou de plástico reciclado –, são colocados à venda a preços competitivos. Hoje, são mais de 2 mil pontos de venda, entre o canal próprio online, seguradoras e clientes que compram lotes para comércio fora dos grandes centros.

Aparelhos extremamente obsoletos ou sem condições de uso – que representam cerca de que 15% do que já foi adquirido pela startup ou, em números brutos, 5 mil celulares – são desmontados. Suas partes, então, são reutilizadas ou vendidas por parceiros, que precisam seguir normas rígidas de certificação ambiental.

“Fazemos de tudo para não gerar lixo eletrônico: peças são vendidas para utilização na manutenção de outros aparelhos e também para outras indústrias. Mantemos até contato com artistas que utilizam as capas como matéria-prima”, conta Frigatto. Quando o descarte de fato precisa ser feito, ele acontece da forma mais ambientalmente correta possível, também por meio parceiros certificados. Quem arca com todo o custo é a própria CelBack.

“Em nosso processo de trade-in de celulares, que envolve direta e indiretamente 4 mil pessoas, ganha o meio ambiente e ganhamos nós como empresa. Ganham o cliente final do varejo, que acaba investindo mais no novo aparelho, o varejo, que faz uma venda maior, o vendedor varejista, que recebe uma comissão, e o nosso cliente final, que adquire um produto remanufaturado com toda garantia de procedência. É uma cadeia que se fecha e onde todo mundo ganha.”

STARTUP RECEBEU APORTE DE R$ 4 MILHÕES

Logo ao iniciar suas operações, a CelBack descobriu um novo grupo de clientes em potencial: as seguradoras que apostam na venda de garantia e seguro contra quebra acidental e roubos para celulares novos, como a Zurich Seguros.

Nos contratos oferecidos por essas empresas, há a prerrogativa de atendimento com telefones manufaturados, afinal, muitos aparelhos segurados não são facilmente encontrados no mercado depois de alguns meses. É aí que entram em cena os aparelhos e as peças da startup.

Praticamente sem concorrentes diretos no mercado, a CelBack já recebeu um primeiro aporte de investimentos série A no valor de R$ 4 milhões e desponta para um futuro promissor em seu primeiro ano de faturamento 2022. A projeção é ampliar neste ano em 70% o número de lojas que ofertam sua solução e em 100% no ano que vem.



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