“Se o Brasil quiser continuar vendendo alimentos para a China, vai ter que diminuir o uso de químicos”, diz diretor da SoluBio

Mariana Sgarioni | 29 maio 2023
Juan Acosta, diretor da SoluBio
Mariana Sgarioni | 29 maio 2023

Entre políticos, integrantes do governo, líderes e empresários, a comitiva que acompanhou a viagem do presidente Lula à China, em abril passado, contou também com a presença da mais moderna fábrica de bioinsumos da América Latina: a SoluBio. A empresa levou ao país, que hoje é o maior comprador de alimentos do mundo, uma saída para cumprirmos a ambiciosa meta brasileira de dobrar a produção agrícola apenas recuperando áreas degradadas de pasto para conversão em lavoura. Como? Oferecendo soluções para que os agricultores produzam (e utilizem) seu próprio bioinsumo, deixando assim de usar insumos químicos.

Juan Acosta, diretor da empresa, esteve na viagem, e explicou à reportagem de NetZero:

“Como o maior importador de comida do planeta, a China já está exigindo dos produtores menos uso de químicos, tanto para defensivos como para fertilizantes. Querem uma produção mais sustentável no Brasil porque compram de nós e no fim do dia sabem que os agrotóxicos vão parar no prato deles”.

Segundo o executivo, ao visitar o interior da China, descobriu que os agricultores locais já fazem uso de bioinsumos para defensivos – boa parte deles produzidos a partir de resíduos de caranguejo, uma técnica ainda não utilizada no Brasil. O motivo é menos a questão ambiental e mais o bolso mesmo.

“Eles são grandes produtores de bioinsumos, estão mais avançados do Estados Unidos e Europa. Trata-se de uma necessidade de custo do pequeno agricultor e isso acontece aqui no Brasil também. É preciso baratear a produção e os químicos são muito caros – além de causarem desequilíbrio da plantação e do solo, trazendo ainda mais prejuízo. E, quando falamos de produção de bioinsumos dentro das fazendas, o Brasil está no mínimo 15 anos na frente de todo o mundo”.

MANEJO “ON FARM”

Os bioinsumos, por si só, já fazem a redução de resíduos químicos e tóxicos no solo, na água e nos alimentos em até 100% em alguns casos, além de aumentar a fixação de carbono e nitrogênio no solo em até 30%. Estes produtos podem ser comprados prontos ou serem produzidos “dentro de casa”, ou melhor, dentro da fazenda. São os chamados manejos on farm – atividade proporcionada pela SoluBio e que o Brasil está hoje em larga vantagem.

A empresa instala um laboratório nas propriedades rurais que vai fermentar bactérias ou fungos para a produção de insumos. O fermentador transforma 5 litros de bactéria em 500 litros de produto, que pode custar de 3 a 5 vezes menos se comparado ao produto comprado pronto.

“Nós entramos nas fazendas pelo bolso e ficamos pela sustentabilidade. Quem começa com pacote básico de bioinsumo, só para testar, numa área reduzida, já economiza de cara 30%. A produção caseira é aprovada pela Anvisa e tem risco baixíssimo. Se você pegar os 10 maiores grupos agrícolas no Brasil, todos produzem on farm em larga escala há pelo menos 15 anos. Há um apelo do mercado e uma necessidade do produtor, para aumentar a margem de lucro. Agora, com a instabilidade da venda dos grãos, este é um lugar de aumento de ganhos”.

Sem contar que, segundo o executivo, os produtos sem defensivos são “premiados” pelo mercado. Quanto mais sustentável, mais valor agregado. Para fins de segurança alimentar, hoje, os compradores pagam mais pelo produto que tem mais qualidade – tanto em teor nutricional como também no que diz respeito a insumos. “No cacau, por exemplo, a saca da amêndoa orgânica custa R$ 600. Os outros custam R$ 100. Entendemos que é difícil eliminar completamente os químicos, mas dá pra diminuir em até 70%”.

INTERESSE DO GOVERNO

Acosta relatou que a empresa tem recebido muito interesse na formulação de políticas públicas em relação a bioinsumos desde a formação do novo governo, que tem reafirmado metas de baixo carbono ao mesmo tempo em que deseja dobrar a produção agrícola nacional. Parecem dois objetivos antagônicos, mas não são.

Segundo dados do Ministério da Agricultura, o Brasil conta com cerca de aproximadamente 160 milhões de hectares de pastagem degradadas, dos quais, segundo estimativas da Embrapa, cerca de 40 milhões de hectares podem ser facilmente recuperados para conversão em lavouras. Os bioinsumos podem ser um grande aliado nesta meta – e é por isso que o governo está de olho.

Accosta explica:

“Os bioinsumos recuperam áreas degradadas e devolvem vida para o solo. Se o manejo for on farm, este processo é ainda mais acelerado. É uma forma barata de converter o que era pasto em lavouras. Aumentamos a produção agrícola com sustentabilidade, sem derrubar nenhuma árvore”.



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