Startup mostra como empresas podem aumentar seu impacto social no país ao fazer melhor uso das leis de incentivo

Julia Moioli | 10 dez 2021
(Crédito: Divulgação)
Julia Moioli | 10 dez 2021

De um lado, projetos sociais não conseguem sair do papel por falta de investimentos; do outro, empresas não fazem uso das leis de incentivo fiscal de forma eficiente. Nesse meio de campo, uma startup de inovação tributária.

A missão da Incentiv.me é inverter esse cenário e garantir visibilidade a projetos sociais de todas as regiões do país, especialmente das áreas mais vulneráveis, colocando-os em contato com investidores e tomadores de decisão nas empresas.

O primeiro passo desse trabalho é um cálculo de potencial de investimento da empresa, feito gratuitamente, e a elaboração de um briefing de acordo com suas diretrizes. Assim, é identificado um novo orçamento para investimento ESG, com base nas leis de incentivo. Os projetos, por sua vez, são mapeados e cadastrados na plataforma da Incentiv-me. Segundo a startup, 90% das empresas não exploram esse potencial com eficiência.

Em seguida, as iniciativas passam por um processo que envolve triagem com inteligência de dados, compliance e análise técnica de aderência e estratégia. Só então são apresentados às empresas para que elas avaliem o interesse em apoiá-los. Hoje, a plataforma já utilizou 35 leis de incentivo diferentes para captar R$ 88 milhões e viabilizar mais de 280 projetos.

A ideia, que surgiu em 2018 para sanar as dificuldades do mercado no uso das leis de incentivo, foi também a resposta para um dilema profissional de seu CEO, o administrador Douglas Lopes. Muito antes de começar sua carreira, Lopes já se envolvia com causas sociais. Ainda jovem, vendia rifas e sorvetes para apoiar a mãe no trabalho como diretora voluntária de uma creche. “Não era vender o produto que me fazia feliz, mas visitar as crianças e ver os resultados”, conta ele.

Já adulto, Lopes viu crescer seu interesse pela gestão pública e sua capacidade de impacto, mas como identificava a política como único meio para isso, manteve-se afastado. Depois de formado e já no mercado de trabalho, atuando como proponente de projetos em educação e acesso à cultura, entendeu que as leis de incentivo representavam um caminho alternativo para a transformação social.

“Descobri um trabalho com propósito e a possibilidade de atuar na gestão de recursos públicos para gerar mais eficiência e transparência para os nossos impostos. Quando todas as pecinhas do quebra-cabeça se uniram, eu pensei: ‘Esse é o meu projeto de vida!’ É mais do que uma startup, é o meu propósito de vida.”

SOLUÇÃO ESG DE PONTA A PONTA

Hoje a taxtech coleciona cases de sucesso. Nos últimos anos, atuou fortemente na categoria de saúde, arrecadando recursos para hospitais como o Hospital de Base de São José do Rio Preto, o Hospital das Clínicas da USP, o Hospital de Câncer de Pernambuco e o Hospital Angelina Caron.

Cultura e educação também ganharam importância. Por meio de uma parceria com o Instituto de Oportunidade Social, a Incentiv.me viabilizou um programa de formação de jovens para a tecnologia. Em parceria com diversas APAEs, investiu-se em escolas para pessoas com deficiência intelectual múltipla. Na área de esportes, as principais parceria são com o Instituto Guga Kuerten e o Instituto do Giovane Gávio.

Entre seus clientes, estão empresas de peso, como Nubank, IBM, Electrolux, Falconi, B3, Sotreq, 99 App e Grupo Fleury.

“Contribuímos com a agenda ESG das empresas clientes de forma direta, com uma solução de ponta a ponta. Além de identificar potencial das empresas e conectá-las com projetos alinhados, possuímos uma ferramenta voltada à gestão do portfólio ESG.”

A Monitore é uma plataforma que centraliza todas as iniciativas e os investimentos focados nessa vertical. Ela permite que a empresa consiga gerir essas iniciativas e coletar métricas e indicadores para compor o seu relatório de sustentabilidade

Dentro da Incentiv.me, a agenda ESG também é forte, com destaque para S, seu core business. Já foram desenvolvidos um código de ética e conduta e um comitê de diversidade, além de outras ações internas. Cerca de 70% das posições de lideranças são compostas por mulheres. Para 2022, o objetivo é expandir o impacto no ecossistema para os stakeholders e a cadeia de parceiros, incluindo questões como a garantia de não utilização de trabalho escravo.

Com o aporte de R$ 10 milhões recebido de mais de 250 investidores-anjo de grupos como Anjos do Brasil, BR Angels Smart Network, Harvard Angels, Insper Angels e Malbec Angels, da organização social SITAWI Finanças do Bem e da holding de investimentos em negócios de impacto socioambiental Synthase Impact Ventures, a ideia é superar R$1 bilhão por ano em captação para projetos sociais a partir de 2024.

Douglas L. Nicolau (à esq.), CEO Incentiv.me. (Crédito: Divulgação)

Até 2030, a Incentiv.me pretende movimentar R$ 10 bilhões para projetos sociais que colaborem com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para isso, o foco será em fortalecer o time, implementando formação, capacitação e novos benefícios. A gestão de pessoas é, aliás, um dos grandes desafios do mercado. Os times da área de leis de incentivo costumam atuar muito por propósito, conectados à essência do impacto social – muitas vezes, isso está distante do mercado competitivo profissional, em termos de salários, valores e capacitação. Dificilmente encontra-se mão de obra qualificada e profissionais já seniores dentro desse segmento, conta Lopes.

EXPLORANDO LEIS PARA VIABILIZAR APOIO A PROJETOS

Outra mudança incentivada pelo aporte financeiro será o processo de produtização. A ideia é deixar de ser uma empresa de serviços, para, de fato, se tornar uma empresa de alta tecnologia, que entrega valor por meio do uso mais efetivo da tecnologia. “Assim, vamos conseguir gerar valor para todos os nossos clientes de forma mais eficiente, com os processos mais automatizados e com um produto que atenda melhor suas necessidades de ponta a ponta.”

Lopes vê ainda outras duas questões que precisam ser superadas: a instabilidade política nacional e a complexidade tributária do país. Para ele, com todo mundo “tentando sobreviver”, sobra pouco tempo para inovação na área –o que abre oportunidades para a startup.

“Em todas as empresas que estudamos, encontramos potencial inexplorado, alguma lei que não estava sendo aproveitada. E é isso que a gente entrega: uma solução eficiente para resolver essa dor usando o mínimo possível de tempo do cliente”, diz ele.

Lopes defende que as empresas mudem seu mindset e agreguem uma nova visão sobre as oportunidades para desenvolver uma agenda ESG:

“O uso das leis de incentivo representa a cidadania corporativa. Uma vez que existe a liberdade de escolha de direcionar para onde os impostos serão investidos, nasce a responsabilidade para que isso seja bem-feito. Precisamos mostrar que as leis de incentivo são uma excelente ferramenta pra ajudar na transformação do país, na viabilização de projetos e também na garantia da boa utilização dos recursos públicos.”



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