Startup quer ser peça-chave na erradicação da pobreza até 2030 incentivando empresas e pessoas a doarem dinheiro a quem precisa

Julia Moioli | 11 fev 2022
(Foto: Divulgação)
Julia Moioli | 11 fev 2022

Quando a gente pensa em filantropia, o que vem à mente são pessoas ricas doando uma partezinha de suas fortunas para alguma causa. A startup Ribon quer mostrar que ajudar financeiramente o próximo e gerar impacto social é uma ação viável para todos. “Criamos uma solução na qual fazer uma doação é de graça”, afirma Moriah Rickli, community manager da empresa.

A ideia, desenvolvida a partir de 2017, funciona da seguinte maneira: a Ribon capta dinheiro de filantropia e entrega ribons (moedas virtuais) para sua comunidade de dezenas de milhares de pessoas, que decidem digitalmente para qual instituição a doação será feita.

Esses usuários, cadastrados na plataforma, também têm a possibilidade de colocar mais dinheiro do próprio bolso. Uma parcela, em geral pequena, adere à ideia, e é de parte desse excedente que sai o lucro da Ribon, mantem seu funcionamento e banca seu crescimento (atualmente, em conjunto com captação investimentos).

A Ribon não é uma ONG, define Rickli. Ele conta que empresa visa a gerar lucro por meio de um impacto social. E é uma entre as startups sociais que buscam criar uma nova mentalidade para a sociedade, que não vê com bons olhos a geração de lucro nesse modelo de negócio.

“No terceiro setor existe muito dinheiro, mas faltam soluções estratégicas para distribui-lo e faltam projetos que gerem lucro. Onde não há lucro, não há muito investimento. Onde não há muito investimento não estão as melhores pessoas, as melhores cabeças e os melhores recursos.”

A startup foi fundada em 2016 por três estudantes da Universidade de Brasília, que discutiam diariametne antes das aulas estratégias para incentivar o hábito da doação entre Millennials e geração Z. Três anos mais tarde, a Ribon entrou para a aceleradora Cubo, do Itaú, e viu sua base de usuários crescer dez vezes.

RELAÇÃO DEVE SER DE GANHA-GANHA-GANHA

Segundo a Ribon, o modelo funciona para muita gente como uma porta de entrada para o mundo da filantropia. Com um clique, novos doadores são criados. São pessoas que nunca tinham tido essa experiência e, provavelmente, não teriam no curto prazo. De acordo uma uma pesquisa realizada com a base da startup, que envolveu mais de 35 mil pessoas, a doação pela plataforma é a primeira para cerca de 50% delas.

Outra vantagem para o usuário é a comodidade. Toda informação necessária está centralizada e facilmente ao alcance em um aplicativo de web ou mobile ou como uma integração em outros sites. Sem a plataforma, seria preciso realizar uma pesquisa para decidir para qual ONG doar, analisar seu trabalho, descobrir maneiras para enviar o dinheiro e acompanhar o impacto da doação.

O impacto pessoal da doação também não pode ser ignorado. Uma série de estudos conduzidos por professores das universidades de Harvard (EUA) e de British Columbia (Canadá) em 2008 mostrou que as pessoas se sentem mais felizes quando gastam dinheiro com os outros do que com elas mesmas, incluindo aí não só presentes para familiares e amigos, mas também doações para instituições de caridade.

“Todo mundo que tem acesso à essa experiência sabe que ajudar alguém é prazeroso e gera bem-estar, mas até então não estava ao alcance de todos.”

Para as ONGs, que contam com doações para manter seu trabalho (e, nesse caso, fazem parte de um catálogo auditado pela Ribon para garantir seriedade e idoneidade), o benefício é a possibilidade de ter sua doação aumentada e, assim, receber mais dinheiro do que receberia diretamente do grande doador. Números internos da startup mostram que, em média, elas recebem 60% a mais de recursos –esse número já chegou a bater 87% em uma doação do Instituto Bem Maior.

Já para os filantropos, a plataforma da Ribon é uma forma de expor melhor seu trabalho e, para grandes doadores, como por exemplo, instituições financeiras e empresas, de gerar uma conexão com seu cliente ao mostrar seu comprometimento social. “É uma ação de ESG gratuita para essas empresas, já que a integração da nossa tecnologia não tem custos”, acredita Rickli.

A Ribon, por sua vez, funciona como uma empresa que gera lucro e busca cumprir sua missão maior: ajudar de forma ativa a se atingir o ODS 1 da ONU, que é acabar com a extrema pobreza até 2030.



GRANDE ALCANCE E RECONHECIMENTO PÚBLICO

Desde seu lançamento, mais de 300 mil pessoas já usaram a plataforma da Ribon, que, hoje, conta com 25 mil doadores ativos mensais.

Mais de R$ 1 milhão já foram doados para caridade, com o apoio de empresas como Tetra Pak, Malwee e Centauro, além do Instituto Bem Maior, do maior filantropo brasileiro Elie Horn, e do braço do World Food Program da ONU no Brasil, que ganhou o Nobel da Paz ano passado.

O reconhecimento também veio na forma de prêmios, como aconteceu em fevereiro de 2021, quando a Ribon foi escolhida pela Fundação Bill & Melinda Gates como uma das dez soluções mais inovadoras no mercado de filantropia no mundo, sendo a única de língua não inglesa. A startup também esteve por dois anos (2019 e 2020) na lista 100 Startups to Watch e recebe investimentos da empresa de venture capital Redpoint.

Ao longo dos anos, o modelo de negócios da Ribon foi sendo modificado de acordo com as circunstâncias. Uma dessas mudanças foi a integração da plataforma com às de outras empresas. Na prática, isso significa que a doação pode ser feita, por exemplo, no site de um banco, e-commerce ou plataforma de RH. Ao fim de uma operação, o usuário recebe moedas digitais, que dentro da plataforma da Ribon permitem a realização da doação gratuita.

“Entendemos que não está no cotidiano das pessoas baixar um app novo todo dia, mas está no cotidiano delas usar uma plataforma de RH, jogar um joguinho de videogame ou realizar uma transação bancária”, diz Rickli. “Então, percebemos que entrar na rotina das pessoas por meio de plataformas que elas já utilizam faz muito mais sentido para o nosso propósito de empresa.”

No final do ano passado, a empresa realizou uma captação de recursos para dar um passo além: utilizar tecnologia blockchain (baseada em registros descentralizados que facilitam o acompanhamento das transações) open source. Isso significa que em cerca de cinco anos a Ribon será uma tecnologia de domínio público, aberta para quem quiser usar. Todos que fizerem parte do ecossistema terão acesso aos números de doações, distribuições, usuários, promotores (que colocaram mais dinheiro do bolso) e ONGs.

“Nossa ideia é que a Ribon se expanda para ser apenas um código, que poderá ser integrado no código de outras empresas da maneira que elas quiserem. Assim, seremos uma organização 100% descentralizada. A plataforma de doações do futuro só fará sentido se for descentralizada.”

Com a descentralização, o modelo de lucro também será diferente. A Ribon será um protocolo automático, com token (ação do protocolo). O lucro gerado será automaticamente reinvestido nele mesmo, que se revalorizará por oferta de demanda, alinhando os interesses de todos os envolvidos.



CONFIRA TAMBÉM