Usaflex lança linha de sapatos com palmilhas feitas a partir de cana-de-açúcar e produzidas com redução de 40% de insumos

Cristiane Rangel | 5 out 2022
Fernando Eduardo Muller, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Usaflex
Cristiane Rangel | 5 out 2022

A indústria de calçados carrega nas costas uma conta difícil de fechar: altas taxas de emissões de CO2 – isso sem falar no despejo de resíduos químicos na água no processo de tingimento das peças. 

A gaúcha Usaflex, que desde 1998 aposta na produção dos chamados “sapatos de conforto”, decidiu lançar uma linha totalmente voltada para as práticas ESG da empresa: a Reconforto. Os calçados levam menos componentes em sua composição, exigem 40% menos insumos do que os tradicionais, e ainda trazem uma novidade: a palmilha em EVA verde, que é renovável e sua produção é feita a partir da cana-de-açúcar. 

“No modelo atual desta linha nós utilizamos basicamente seis componentes. Já em um tênis similar tradicional seria necessário praticamente o dobro disso. O EVA normal leva um solvente chamado acetato vinílico. Nós substituímos esse componente por um mais natural e menos poluente, vindo da cana. Isso faz com que a gente não use componentes de matéria-prima agressiva. Quando formos dispensar esse sapato, dar a ele alguma outra função, não corremos o risco de ter esse tipo de químico poluindo o meio ambiente”, explica Fernando Eduardo Muller, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da empresa.

ORIGEM DO COURO

A Usaflex garante que 100% couro utilizado em seus sapatos é de origem nacional, a partir de fornecedores com certificação internacional de boas práticas ambientais e de cuidados sustentáveis. “Os nossos fornecedores estão alinhados às nossas práticas, de modo que sustentabilidade não seja apenas um discurso, mas seja uma prática efetivamente”, afirma Muller.

“Todo produto que utilizamos é livre de metais pesados. O couro tem o beneficiamento, o acabamento e a parte da matéria-prima. Prezamos pelas três partes que é para ter controle da origem desse material. Ou seja, controlamos a cadeia completa. Ao olhar para toda a cadeia, conseguimos corrigir os problemas que eventualmente apareçam de forma mais pontual”.

Além do cuidado com a matéria-prima, a linha Reconforto utiliza cores neutras e que requerem menos etapas no tingimento. “Desta forma, evitamos o uso excessivo de produtos químicos no processo de tintura. O tingimento ainda é uma das principais origens da poluição, principalmente da água, na indústria da moda”, destaca Muller, que lembra que o tempo de produção da linha é 30% menor, o que impacta no consumo de energia, utilização de maquinário e mão-de-obra. 

O executivo explica ainda que, na linha de produção de calçados, quanto mais produtos são utilizados, maior o volume de sobras, e esta também foi uma das preocupações da empresa ao lançar a Linha Reconforto. “Um dos nossos objetivos com a Linha Reconforto também é reduzir as sobras de rebarbas de couro, de tecido”, afirma. 

O QUE FAZER COM AS SOBRAS?

Atualmente, nenhum tipo de rejeito ou sobra de material da Usaflex vai para aterros sanitários e o volume de resíduos gerados para cada par produzido vem sendo reduzido ano a ano, graças a uma série de ações que visam a maior eficiência na gestão de sobras industriais. Todos os resíduos gerados são destinados para reciclagem, logística reversa, coprocessamento e descontaminação.

Com quatro unidades produtivas, em três delas a Usaflex conta com geração de energia por fontes limpas e renováveis. São pequenas centrais hidrelétricas, eólicas e usinas solares instaladas. 

“Primeiro cuidamos do que estava dentro, depois levamos para fora a nossa preocupação ambiental”

A responsabilidade social também está nas ações da Usaflex. A empresa conta atualmente com cerca de quatro mil funcionários, destes, aproximadamente 65% são mulheres. O diretor de P&D da empresa ressalta que o público feminino é o foco da empresa, tanto interna quanto externamente, uma vez que a empresa só produz calçados para mulheres. A Usaflex foi a primeira indústria de calçados femininos do Brasil a ser signatária dos sete princípios de empoderamento feminino que fazem parte do movimento criado pela ONU Mulheres. 

Na empresa, o programa Empodera desenvolve iniciativas como palestras, encontros e discussões, promoção à saúde, grupos de gestantes, entre outros, relacionados a diversos aspectos do empoderamento e do direito feminino. 

“A Usaflex tem seu olhar voltado diretamente para as mulheres. Sem o público feminino nós realmente não estaríamos aqui. Produzimos calçados para mulheres, com as mulheres, e isso para nós é motivo de orgulho”.

INOVAR E REUTILIZAR

A cultura da inovação na Usaflex tem como base alguns programas internos. Um deles é o Inovaflex. Por meio do programa, a empresa recebe sugestões inovadoras seja para os produtos, processos ou para ações internas.

“Um exemplo foi a sugestão recebida de um funcionário para substituir as toalhas de papel por toalhas de rosto em tecido. A ideia foi implementada e hoje faz parte das nossas práticas internas de sustentabilidade”.

Segundo Muller, as equipes de inovação da empresa trabalham de maneira muito próxima com as de processos o que, na visão dele, reduz custos e tempo de produção. “Desta forma toda a nossa inovação está muito ligada à sustentabilidade. É alguém olhando o processo de produção para saber o que a gente pode otimizar neste momento”, ressalta.

O executivo destaca também a importância do trabalho direcionado ao conforto das consumidoras – um lugar em que a inovação é fundamental. 

“Nós trabalhamos com o desenvolvimento de calçados para inúmeras patologias dos pés e é a nossa área de inovação que está por trás do desenvolvimento de calçados para joanetes, diabetes, esportes leves, pés sensíveis, entre tantos outros. Antigamente não havia no mercado produtos que aliassem beleza à saúde dos pés. Hoje, levar a moda para esta mulher é de extrema importância no nosso negócio”.



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