Do resto de comida à bag do entregador: como o software da GreenPlat está ajudando restaurantes da base do iFood a gerir seu lixo

Julia Moioli | 9 fev 2022
Raphael Guiguer, COO da GreenPlat. (Foto: Divulgação)
Julia Moioli | 9 fev 2022

Quem vive em qualquer grande cidade brasileira sabe: é praticamente impossível sair na rua e não avistar um motoqueiro com a mochila vermelha do iFood fazendo uma entrega de refeição. Mas os mais de 60 milhões de pedidos mensais também acendem um alerta: para onde vai o lixo gerado pelas centenas de milhares de restaurantes conectados a esse ecossistema?

Pensando em diminuir seu impacto ambiental, a empresa passou a oferecer a estabelecimentos parceiros no início deste ano o programa de gerenciamento de resíduos por meio do software de gestão e monitoramento de ações e indicadores ESG PlataformaVerde, que rastreia processos e cadeias produtivas.

“Sabemos que muitos restaurantes, por desconhecimento ou mesmo pela complexidade da regulação, não sabem como funciona a gestão de resíduos e não entendem as implicações legais de não realizá-la, que envolvem desde aplicação de multas até, no caso da cidade de São Paulo, a perda do alvará de funcionamento”, afirma Raphael Guiguer, COO da GreenPlat, criadora do software. “Com a parceria com iFood conseguimos ampliar esse entendimento e gerar um grande impacto, graças à cadeia de capilaridade do aplicativo.”

O projeto-piloto, que deu a largada na cidade de São Paulo mas deve se estender a todo o Brasil, é parte do programa de benefícios “Vantagens do Chef”, que oferece descontos em produtos e serviços sustentáveis de parceiros selecionados. Qualquer restaurante da base do iFood pode adotar uma gestão automatizada de resíduos pelo PlataformaVerde, que os conecta com empresas homologadas e licenciadas para a prestação desse serviço por um preço abaixo do mercado. Ainda é possível ganhar cashback com a separação do lixo reciclável e do óleo de cozinha e reduzir custos operacionais.

“Nosso objetivo principal com a parceria com o iFood é viabilizar o Aterro Zero. Os resíduos dos restaurantes passam a ser separados e a ter o destino mais ecologicamente adequado: os orgânicos vão para compostagem; os recicláveis, que incluem papel, plástico, metal e vidro, passam por uma triagem antes de serem entregues a recicladores; e outros materiais são processados em fonte alternativa de energia para gerar combustível para a indústria.”

Ao acessar a página do programa, o restaurante preenche o formulário “Quero Economizar”, com informações básicas sobre seus resíduos, e, a partir dele, o time da GreenPlat consegue fazer um mapeamento da melhor solução e oferecer uma proposta para execução do serviço.

PANDEMIA AUMENTOU DEMANDA POR DELIVERY E GEROU MAIS LIXO

A parceria entre iFood e GreenPlat chegou em um momento em que a transferência dos ambientes de trabalho e educacional para o modo remoto fez com que a população passasse mais tempo dentro de casa, consumindo mais, especialmente por meio de delivery.

De acordo com o relatório “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2021”, da Abrelpe (Associação Brasileiras das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), no ano de 2020, cada brasileiro passou a gerar 1,07 kg de lixo por dia enquanto esteve em isolamento. Soma-se a isso o fato de que o mercado de bares e restaurantes, que produz cerca de 150 mil toneladas de lixo por ano, segue crescendo.

No Brasil, quase 40% dos resíduos sólidos urbanos coletados ainda são descartados de forma inadequada e vão parar em lixões e aterros sanitários, comprometendo a saúde de 77,5 milhões de pessoas. A aplicação de recursos no setor também é baixa: são apenas R$ 0,36 diários por habitante para limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

Quando olhamos para qualquer área de sustentabilidade, os desafios são gigantescos. Mas quando olhamos especificamente para a gestão de resíduos no Brasil, é assustador. Além de quase a metade dos resíduos não ter destinação adequada, precisamos pensar em como reinseri-los, olhando para o resíduo de uma indústria como insumo da outra, tornando a economia circular.”

A forma como a GreenPlat pode viabilizar isso é usando tecnologia e rastreabilidade e dando mais eficiência aos processos para que os clientes possam tomar decisões com base em dados reais.

Entre as metas, o iFood pretende envolver mais de 20 mil restaurantes ao longo do projeto. No primeiro semestre de trabalho, o objetivo é chegar a mil estabelecimentos parceiros.

COMO FUNCIONA A TECNOLOGIA

A tecnologia por trás da parceria é o software PlataformaVerde, que tem 3 mil clientes e já deu destinação correta a um milhão de toneladas de resíduos. Desenvolvido a partir de 2015, ele conta com 1.200 funcionalidades. Ele também centraliza todos os dados de compliance, licenças e documentações para que se possa obter o selo Aterro Zero mais rapidamente.

Todas as ações necessárias são executadas de forma digital. Com os relatórios gerados, os restaurantes recebem em mãos também os dados mais importantes (como quais resíduos são gerados, como funciona a coleta e qual é sua frequência) e maior visibilidade sobre todo o processo em tempo real. Segundo Guiger, conforme o sistema foi sendo desenvolvido, os clientes eram ouvidos com frequência para que se entendesse suas dificuldades.

Bags dos entregadores que passarão por processo de reciclagem ou upcycling. (Foto: Divulgação)

ENVOLVENDO A CADEIA NO COMPROMISSO ESG

O projeto de gestão de resíduos dos restaurantes não foi a primeira parceria entre iFood e GreenPlat. As duas empresas começaram a atuar juntas em 2018, quando o serviço de delivery passou a ampliar sua área de sustentabilidade.

Apesar de não ter nenhum restaurante ou moto, o iFood entendeu que estava inserido no problema de gestão de resíduos, e uma de suas responsabilidades como marca era ajudar restaurantes, entregadores e todos em que ele toca na cadeia a ter uma postura mais sustentável.”

Uma das primeiras questões que surgiram foi: o que acontece com as mochilas utilizadas pelos entregadores, uma espécie de outdoor ambulante da marca, depois de sua vida útil? Era preciso garantir que elas estivessem em bom uso, mas distribuir cerca de 30 mil novas por mês certamente provocava impacto ambiental.

A GreenPlat assumiu, então, o projeto de Logística Reversa, com o compromisso de dar a melhor destinação ambiental possível para todo aquele material (um mix de nylons e polímeros complicados de serem reciclados) e não deixar que nenhuma mochila chegasse a aterros.

Todo mês, diferentes cidades recebem ações de distribuição de mochilas a entregadores que também recolhem as obsoletas – todas possuem um QR Code para identificar o número de viagens feitas e permitir que a GreenPlat faça o controle de ponta a ponta.

Uma vez recolhidas, são analisados os destinos possíveis em cada região, sempre privilegiando a reciclagem e o upcycling, que é o processo de desmontagem e transformação em outros produtos, como mini coolers e ecobags. As mais deterioradas são usadas para geração de energia.

Como consequência dessas ações, no ano passado, o iFood celebrou o marco de um ano de Aterro Zero. No total, 83 toneladas de materiais foram destinados adequadamente e 100% das mochilas são reaproveitadas de alguma forma.



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