Após tornar mais ambiciosa sua estratégia ESG, CTG Brasil quer ser protagonista na transição para economia de baixo carbono

Andressa Rovani | 12 ago 2022
José Renato Domingues, vice-presidente corporativo da CTG Brasil. (Foto: Divulgação)
Andressa Rovani | 12 ago 2022

O Fórum Econômico Mundial estima em R$ 50 trilhões o volume de investimentos necessários até 2050 para que façamos, globalmente, a transição para uma economia de baixo carbono e, assim, possamos evitar uma catástrofe climática. É um compromisso que precisa ser assumido agora por governos, sociedades e empresas, e um dos caminhos para isso está na mudança das fontes de energia que abastecem o planeta. Com investimento em pesquisa e inovação em fontes limpas e renováveis que deve atingir R$ 25 milhões neste ano, a CTG Brasil quer ser peça-chave na transição energética.

A empresa, de origem chinesa, chegou ao País em 2013 e hoje conta com 17 usinas hidrelétricas e 11 parques eólicos espalhados pelo Brasil. A companhia possui 8,3 GW em seu portfólio atual, o que representa cerca de 4% da capacidade instalada do Brasil.

O compromisso da CTG Brasil com o País é de longo prazo. Com foco em atender à demanda crescente da sociedade e do planeta por energia limpa, a empresa se prepara para ampliar o seu percentual de fontes renováveis até 2024. Tendo em vista que as fontes hídrica, eólica e solar são complementares, essa diversificação também contribui para o equilibrar o perfil de geração de energia da empresa.

A companhia conta ainda com investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Recentemente, foi lançada a maior chamada pública do País de hidrogênio verde, fruto da parceria entre CTG Brasil e SENAI. O objetivo é assumir posição de destaque na geração de um tipo de energia que, além de ser limpa e renovável, pode ser exportada para outros países. “Queremos liderar a renovação das fontes de energia a partir do hidrogênio verde no Brasil”, afirma José Renato Domingues, vice-presidente corporativo da CTG Brasil.

A empresa aderiu ao Pacto Global em 2017 e divulga anualmente seu relatório de sustentabilidade de acordo com as normas GRI. Neste ano, a CTG Brasil definiu uma estratégia que contempla compromissos, objetivos e metas de sua agenda ESG.

Nesta entrevista, José Renato explica o investimento da CTG Brasil em ações para o desenvolvimento sustentável e conta sobre outros projetos inovadores da empresa, como o uso de tecnologia blockchain para garantir energia 100% limpa aos carros elétricos do País e a criação de baterias que possam dar suporte à transição energética. Leia a seguir os principais trechos da conversa.

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Por que a CTG escolheu o Brasil para se instalar, em 2013?

A CTG é uma das maiores empresas do mundo em termos de geração de energia limpa, com 140 GW de capacidade instalada. Para dar uma ideia do que isso significa, se pegarmos a capacidade instalada do Brasil inteiro, estamos falando de algo em torno de 200 GW. O Brasil passou a ser uma prioridade do grupo devido ao seu potencial de necessidades energéticas e recursos para o desenvolvimento e operação de projetos de geração de energia renovável em larga escala – que é o principal negócio da CTG, além de mão de obra qualificada e bom ambiente regulatório.

“A CTG é uma empresa de energia limpa (hidrelétrica, parques eólicos e parques solares), e no Brasil há muito espaço de crescimento em renováveis.”

Outro aspecto, que é mais histórico, mas gostamos de contar, é que a criação da usina Três Gargantas – maior do mundo e que pertence à CTG, na China – teve uma influência muito grande da usina Itaipu, da engenharia brasileira e dessa troca entre Brasil e China. Itaipu era a maior usina do mundo na época. Essa é uma relação de mais de três décadas.

Como uma empresa que já produz energia 100% limpa vê seu propósito em termos de sustentabilidade, sobretudo atuando em um setor que é central para as mudanças climáticas?

Nosso papel é o de ajudar clientes, parceiros e países a fazerem a transição energética. Temos uma maneira de fazer isso, que é por meio de investimentos em novas plataformas — sejam eólicas, solares, hidrelétricas — para ampliar a oferta de energia limpa para que quem precisa e quer fazer a transição, possa ter acesso a essa energia. Assim enxergamos nosso propósito, estamos inseridos no core da transição energética pelo qual o planeta precisa passar e as empresas precisam fazer.

Então, boa parte dos nossos clientes vê a CTG Brasil como uma empresa parceira e, ao investir em fontes renováveis, traz para eles a possibilidade de ter acesso a mais energia limpa.

A expansão com esses parques já está em curso?

Estamos nos preparando para essa nova etapa de crescimento. Hoje, nossa base de capacidade é predominantemente hidrelétrica, mas olhando estrategicamente para o que faremos no futuro, o grande crescimento vai acontecer com outras fontes renováveis. Além da expansão em novas fontes, investimos na modernização dos nossos ativos em geração hidrelétrica, garantindo mais confiabilidade ao sistema.

O nosso projeto de modernização das usinas Jupiá e Ilha Solteira, por exemplo, é o maior dessa natureza em curso do Brasil com investimento R$ 3 bilhões. É um projeto onde a troca de experiência entre engenheiros brasileiros e chineses tem feito toda a diferença. No total, estamos modernizando 34 unidades geradoras, além do nosso Centro de Operações em Ilha Solteira, que acaba de ser inaugurado.

Quais são os planos em ESG para os próximos anos?

Como somos uma empresa de energia 100% limpa, a sustentabilidade sempre permeou a nossa estratégia de negócios. Com a adesão ao Pacto Global, em 2017, ficamos ainda mais próximos a iniciativas, práticas e ações de outras empresas do próprio setor e de fora dele. Para nós, foi um grande motivador para ampliarmos a nossa atuação tendo em vista nossa estratégia ESG

A partir daí, fizemos uma reflexão que culminou na nossa Plataforma ESG, lançada esse ano, onde definimos nossos pilares e nossas metas e objetivos para os próximos anos. E o que fez com essa definição dos objetivos e metas ganhasse uma relevância importante foi isso ter sido discutido e aprovado na maior instância de governança que temos, que é nosso conselho. Contamos com o envolvimento de todo o corpo executivo e de gestores, que agora estão se dedicando ao que definimos.

Entramos agora na fase importante de implementar todas essas ações. Ouvimos o pessoal de campo, de engenharia, de operações. Fizemos um processo de ouvir, trazer, transformar em estratégia e levar para o conselho para definir as metas que queríamos atingir.

Como foi o processo de construção da estratégia ESG?

A plataforma foi desenhada por meio de um processo de cocriação com diversas equipes, além de benchmarks dentro e fora do setor de energia. Isso nos permitiu que fosse construído um plano ao mesmo tempo ambicioso e realista.

“É impressionante o engajamento das áreas operacionais na discussão das metas do programa. Como excelência é um valor muito forte na empresa, muitos indicadores ESG já são monitorados. Neste trabalho, nossa discussão era como poderíamos avançar e ir além dos requisitos legais, buscando melhorar continuamente o nosso desempenho e o nosso impacto.”

Um exemplo que eu gosto muito é o de Segurança de Barragens e gestão dos reservatórios. Estamos ampliando o diálogo com as comunidades no entorno de nossas operações. Temos inclusive um P&D que desenvolveu uma plataforma de comunicação com os ribeirinhos para garantir uma melhor interação entre a CTG Brasil e esse público.

A CTG Brasil criou há pouco tempo seu Conselho de Administração. Por que tomou essa decisão?

Ele foi criado em março de 2022, mas já existia como conselho consultivo. Temos uma holding e outras empresas subsidiárias abaixo, fruto de aquisições, que foi como a CTG Brasil nasceu e cresceu. As usinas Ilha Solteira e Jupiá, que conquistamos no leilão, são os ativos da Rio Paraná Energia. Os ativos da Duke Energy no Brasil, adquiridos pela CTG Brasil, compõe a Rio Paranapanema Energia, que é uma empresa listada na Bolsa, por exemplo. Essas empresas têm seus conselhos de administração funcionando, até por uma questão de governança, mas não tínhamos na holding.

No último um ano e meio, tivemos um conselheiro independente para ajudar a fazer essa transição para um Conselho de Administração. Agora estamos ampliando o conselho colocando mais uma conselheira independente. Entendemos que essa evolução está alinhada às boas práticas de governança.

“Queremos nos posicionar como uma empresa com um processo de decisão robusto, onde a transparência tem uma grande importância e as necessidades dos stakeholders são consideradas.”

No total são 6 membros, sendo 2 independentes, com comitês de assessoramento ao Conselho atrelados: Auditoria e Risco e Pessoas e ESG. Essa prática é fundamental, inclusive, para garantir a competitividade da empresa.

Imagem aérea feita com drone da UHE Ilha Solteira. (Foto: Ferdinando Ramos/Plus Images)

Como a empresa se vê nos próximos anos em relação à agenda ESG?

Investimos em inovação com a intenção de influenciar o setor. Queremos liderar pautas e temas relacionados a ESG e sustentabilidade, sempre com foco em soluções e tecnologias que acelerem a transição energética e nos ajudem a superar os desafios das mudanças climáticas. No ano passado, investimos quase R$ 24 milhões em P&D+I, este ano serão R$ 25 milhões. São um conjunto grande de projetos de médio e longo prazo.

Há, por exemplo, um projeto em biodiversidade para controlar a invasão de mexilhão dourado por meio de uma estratégia biotecnológica de indução genética da infertilidade. É um projeto de P&D de alto nível, superambicioso, diferente e sobretudo uma solução definitiva, no qual futuramente serão colocados em nossos reservatórios mexilhões dourado geneticamente modificados (GM) que, ao se reproduzir com mexilhões selvagens em reservatórios de UHEs, transmitirão de forma acelerada a infertilidade para as próximas gerações, colapsando as populações dessa espécie invasora.

Um segundo exemplo está ligado à mobilidade elétrica. Há muita coisa sendo feita em termos de infraestrutura. Escolhemos uma parte de projeto, que ninguém estava olhando muito, que é a capacidade de transformar os eletropostos em postos comerciais, onde você consiga pagar pela energia durante uma viagem. Queremos fazer, e isso tem tudo a ver conosco, pois podemos fazer com que a energia vendida em determinado eletroposto seja 100% limpa.

“Imagine a contradição de ter um carro elétrico e abastecer com a energia que veio de uma termelétrica, abastecida a carvão? No sistema brasileiro, como ele é todo integrado, você não consegue saber de onde vem, não tem como medir. Mas, no nosso projeto, com tecnologia blockchain, é possível rastrear a origem da energia.”

Portanto, se ele faz contrato com a CTG Brasil, garantimos que naquele posto só tem energia 100% limpa. Essa é uma inovação totalmente direcionada para o setor, em um ponto que ninguém estava trabalhando, e que tem tudo a ver com a nossa proposta de trazer energia limpa e de deixar isso visível para as pessoas. Já temos eletropostos funcionando em nossas usinas e em alguns pontos públicos em São Paulo. Até o final deste ano devemos fazer as primeiras medições. Esses são apenas alguns exemplos. Temos muitas iniciativas interessantes, com forte impacto para toda a sociedade. Valeria uma entrevista só para isso.

Que espaço a CTG Brasil pretende ocupar rumo a uma matriz energética mais limpa?

Já ocupamos um espaço relevante uma vez que somos a terceira maior geradora de energia do país, com um portfólio 100% limpo e que deve crescer nos próximos anos. Mas, falando ainda de inovação, temos dois outros temas, que lançamos como chamadas públicas, com uma grande visibilidade, com foco na nossa contribuição para o futuro.

Um está ligado ao armazenamento de energia, que lançamos recentemente em parceria com o SENAI, com abrangência internacional. Esse é um grande problema: a partir do momento em que você tem mais energia vinda de fonte eólica e solar, que são energias intermitentes, é importante garantir energia suficiente para atender a demanda contratada nos períodos de pouca geração.

A segunda chamada pública foi lançada no Rio Grande do Norte, com abrangência nacional. Ela está ligada ao hidrogênio verde, que tem um grande potencial a ser explorado no País e do qual se começa a falar agora de forma mais séria. A própria crise na Europa gerada pela guerra na Ucrânia está fazendo com que essa pauta avance cada vez mais rápido.

“Nós queremos liderar a renovação das fontes de energia a partir do hidrogênio verde no Brasil, que é um grande potencial nosso. Além de ser uma fonte de energia renovável que se consome dentro do próprio País, ele também pode ser exportado.”

É possível transportar a energia contida no hidrogênio para qualquer parte do mundo, seja em sua forma líquida, armazenado em tanques, por exemplo, ou seja, transformando em amônia ou até mesmo em metanol. A gente pode passar a exportar energia dessa forma, seja para abastecer qualquer parte do mundo, desde que tenha alguém que consiga receber e converter em energia de diversas formas. Pode ser para a indústria metalúrgica, pode ser para uso em fertilizantes, para várias indústrias e também para a geração de energia, feita a partir de fonte limpa.

O que torna ele de fato atraente para o resto do mundo é poder fazer isso no Brasil com uso de suas fontes renováveis de energia, como parques eólicos offshore e parques solares.

Enfim, para cada uma dessas ações de sustentabilidade, já definimos metas e teremos iniciativas práticas para fazê-las funcionar. Queremos que a CTG Brasil assuma um protagonismo em ESG, contribuindo para combater os impactos das mudanças climáticas e para transição para uma economia de baixo carbono.


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