“Por que não fazer resíduo virar insumo em vez de despejá-lo em rio?”: Tirolez descobre como transformar problema em solução

Julia Moioli | 3 jun 2022
João Vitor Ferreira, Gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Tirolez. (Foto: Divulgação)
Julia Moioli | 3 jun 2022

No relatório de sustentabilidade da Tirolez, umas das principais fabricantes de queijos do Brasil, um dos temas prioritários é a gestão ambiental, e, dentro dela, a água. Isso não se dá por acaso. A indústria de alimentos é uma das que mais consomem recursos hídricos – e, muitas vezes, o impacto está tanto na linha de produção como na higienização de equipamentos e pisos.

Com base no ODS número 6 (Água potável e saneamento), a empresa concentra energia não apenas na redução do consumo de água (alcançou uma taxa de 10% em 2020) como no tratamento dos efluentes da produção e no desenvolvimento de novas estratégias para tornar essas sobras líquidas do processo fabril úteis novamente – e, assim, fechar a circularidade do consumo.

No centro desses esforços está um programa realizado em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) que destina parte dos efluentes da Tirolez para a pastagem da pecuária leiteira. A iniciativa, considerada pioneira no setor pelos órgãos ambientais, tem apresentado resultados tão animadores que a empresa já enxerga a possibilidade de que, no futuro, ela possa trazer ganhos para seu balanço de carbono, de acordo com João Vitor Ferreira, gerente de Saúde, Segurança e Meio ambiente da empresa.

“A composição dos nossos efluentes foi analisada em um projeto de iniciação científica e descobrimos que, além de mais de 95% de água, eles contêm elementos químicos como nitrogênio, fósforo e potássio, considerados fundamentais para a nutrição de plantas. Por que não fazer o resíduo virar insumo em vez de tratá-lo e despejá-lo em rios?”

Depois de uma série de estudos de viabilidade, que incluiu aprovação com órgãos ambientais e a liberação dos investimentos necessários, a Tirolez tirou a ideia do papel em abril do ano passado.

Desde então, parte dos efluentes de sua linha de produção não são mais encaminhados para tratamento e subsequente descarte: é coletada semanalmente por caminhões e levada a uma propriedade parceira, próxima a uma das fábricas da Tirolez, em Arapuá (MG).

Estudos indicam que, por sua composição, os resíduos líquidos da produção queijeira possam manter o solo da fazenda úmido e equilibrado, garantindo a qualidade do pasto em época de seca. A ação pode evitar que o produtor tenha que comprar alimentos para complementar a nutrição dos animais.

COMO FUNCIONA O PROCESSO

Na fazenda parceira, os resíduos líquidos são armazenados em dois tanques de cerca de 15 metros cúbicos cada um. Por meio de um sistema de irrigação automático, são borrifados em áreas divididas em porções menores conhecidas como piquetes –cada um recebe taxas diferentes de efluentes para que o comportamento do solo e da pastagem sejam analisados. Todos os meses, em média, são aplicados 300 metros cúbicos de efluentes. Esse processo de fertilização por meio da água de irrigação é conhecido como fertirrigação.

Cada etapa é realizada sob o acompanhamento atento de alunos e professores da UFV. Tanto o solo como o capim que irrigados são depois analisados, gerando relatórios para o órgão ambiental competente, que forneceu uma autorização de um ano para o projeto antes de permitir sua inserção definitiva dentro da licença ambiental da empresa.

“A fertirrigação do solo com efluentes da indústria do queijo cria uma verdadeira cadeia de ganhos para todos os envolvidos”, garante o executivo. “A Tirolez reduz o volume de resíduos líquidos descartados e os custos de tratamento, ao mesmo tempo em que se envolve com a comunidade ao seu redor.” Ele também cita impacto sobre o produtor rural, que aumenta a qualidade de sua pastagem, ganhando produtividade e gastando menos com adubos químicos; e sobre a UFV, que proporciona aos alunos do curso de agronomia a oportunidade ter contato com inovação na prática.

Os resultados obtidos até o momento mostram que o solo está reagindo bem à fertirrigação, e que o torna, inclusive, mais eficiente para absorver micronutrientes. Isso significa que a qualidade e o aumento da pastagem já são realidade, de acordo com Ferreira. Com os resultados, já há estudos para ampliar o projeto para outra unidade industrial, na cidade de Caxambu do Sul, em Santa Catarina.

FOCO EM PRESERVAÇÃO DA ÁGUA

Além do projeto de fertirrigação com efluentes, o portfolio de iniciativas na área de sustentabilidade da Tirolez conta com outras ações voltadas à preservação da água.

Certas operações, como a lavagem de caminhões, utilizam água reaproveitada das chuvas, graças a telhados preparados para realizar essa coleta. Outras, como as caldeiras que movem as unidades de produção, tratam sua água por osmose reversa, que remove a maioria de seus contaminantes, evitando seu descarte.

Além disso, a empresa conta com o Projeto de reaproveitamento de água do soro, na unidade de Tiros, cidade de Minas Gerais em que a empresa foi fundada há 42 anos. Durante a fabricação de queijo, parte do soro gerado passa por um processo de concentração, que tem como produto final água desmineralizada. O soro é vendido como matéria-prima para outros alimentos, e a água, reintroduzida na produção de queijo.

“Projetos que reutilizam efluentes ou dão a eles destinos renovados em outras indústrias fortalecem a eficiência de nossos processos fabris. Alinhando todos esses ganhos, entendemos de fato a importância da sustentabilidade.”



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