“Um dia decidi: não quero enviar currículo para lugar nenhum. Sou empresária, quero criar soluções”, diz Monique Evelle

Mariana Sgarioni | 28 nov 2023
Monique Evelle, empreendedora, cofundadora da Inventivos e jurada no Shark Tank Brasil. Foto: Guido Ferreira/Divulgação Sony Channel.
Mariana Sgarioni | 28 nov 2023

Um belo dia ela resolveu mudar. E fazer tudo o que queria fazer.

Desta forma, assim como a letra de uma das canções mais famosas de Rita Lee, a empresária e investidora Monique Evelle deu uma guinada em sua carreira: em 2020, deixou a ideia de cargos em empregos formais e tornou-se uma das maiores vozes de inovação empreendedora no Brasil. Hoje, aos 28 anos de idade, esta baiana de Salvador lidera o Inventivos, uma comunidade que ensina empreendedorismo para quem quer aprender, de fato, a ganhar dinheiro com seu negócio. “Queria criar soluções que impactassem o mundo. Foi aí que criei uma empresa que ensina pessoas a ganharem dinheiro” conta.

Desde muito jovem, Monique é uma liderança. Com apenas 16 anos, inicia sua jornada empreendedora ao fundar o Desabafo Social, um laboratório de tecnologias sociais aplicadas à geração de renda, comunicação e educação em favor dos direitos humanos. Como jornalista, em 2017, fez parte da equipe do Profissão Repórter, da Rede Globo. Até 2022, foi Consultora de Inovação do NuBank e, sob sua coordenação, nasceu o fundo Semente Preta, que investiu em startups brasileiras fundadas ou lideradas por pessoas negras. Em 2022, tornou-se conselheira do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU). E, atualmente, é shark do programa conhecido Shark Tank.

“Sou uma mulher negra nordestina e investidora. Acredito em outro caminho de investimento: o ESG. Não se trata de filantropia, como muitos acreditam. Estou falando de dinheiro. Nos últimos 13 anos, as startups relacionadas a ESG levantaram mais de R$ 2 bi. Isso significa um volume médio de 58% de investimento. Isso é muito significativo. Ainda dá pra achar que é filantropia?”

Na entrevista a seguir, Monique explica mais sobre sua trajetória, suas escolhas, e o que considera relevante no mundo dos investimentos de hoje em dia. “O mundo pode até ser extrativista. Mas este não é meu jeito de fazer negócios”.

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NETZERO: Por que você considera importante ensinar empreendedorismo?

MONIQUE EVELLE: Acho importante investir na saída da precarização do empreendedorismo. Fala-se muito na precarização de trabalhadores que saíram do regime da CLT para se tornarem autônomos.

Mas não há a discussão de que a maioria das pessoas que abre um negócio próprio hoje no Brasil é de mulheres e pessoas negras, que empreendem para sobrevivência, e não ganham mais do que um salário mínimo. Isso é precarização. Estas pessoas não são remuneradas e passam necessidade porque não conseguem criar negócios prósperos.

Foi com isso em mente que criamos a Inventivos, em 2020, no auge da pandemia. Porque víamos as pessoas que precisavam empreender para fazer dinheiro. Eu perguntava: ok, como você fará isso? Uma coisa é começar sozinho. Outra é garantir uma vida com dignidade. Decidimos auxiliar e este é nosso negócio hoje.

Este é um negócio que muda a vida das pessoas. Como isso muda a sua vida?

Nasci em um bairro periférico de Salvador. Meu pai era segurança e minha mãe era empregada doméstica. Com toda simplicidade, meus pais me deixavam livre – eu circulava pela cidade. Eles me deram o direito de me apropriar da minha cidade, meus pais me deixaram sonhar. Então eu podia ser o que quisesse.

Eu estudei engenharia ambiental, depois direito, depois política e gestão da cultura. Achei que ia para a vida acadêmica, recebi um convite de Caco Barcellos e fui para a televisão. Até que parei tudo. Eu não me imaginava como jornalista. Pensei: não vou enviar currículos para lugar nenhum. Quero criar soluções. Quero que estas soluções me sustentem. Pois criei algo que ensina as pessoas a se sustentarem [risos]. Para isso precisei romper com movimentos sociais, com o ativismo. Eu não vou criar uma ONG. Sou empresária e terei uma empresa.

Mas trata-se de um investimento social.

Sim. Eu tenho meu jeito de fazer negócios. Sou uma investidora e meu perfil é o investimento em ESG e diversidade.

Nos últimos 13 anos as startups relacionadas a ESG levantaram mais de R$ 2 bi. Isso significa um volume médio de 58% de investimento. Isso é muito significativo. Os negócios de impacto hoje representam 44% dos investimentos ESG. Eu empreendo há 13 anos e não tenho como ignorar estes números. Outro critério que não é possível ignorar é o aspecto de gênero e raça: 86% dos investidores anjo no Brasil são homens brancos. Não existe, nesta área, a relação de gênero e raça, pois as mulheres negras são quase inexistentes.

Este é o perfil que você aposta no programa Shark Tank?

É um reality. Me perguntam se sou um personagem nas frente das câmeras, mas não. Não posso ignorar meu histórico e letramento. Sou uma mulher negra, nordestina e investidora. O que esperam de mim? Se eu invisto em ESG não é só pelo propósito. Enxergo que esta é uma possibilidade de transformação e o dinheiro vai voltar. A conta é simples. Agora, este programa é educativo e atinge muita gente.

Unidade não é diversidade. Eu sozinha não significo diversidade. O meu é ESG é a diversidade. Quem nunca parou para pensar neste assunto, agora assiste a televisão. E pensa.



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