Após 60 anos de mercado Sprite decide mudar uma história: a tradicional garrafa verde fica transparente

Bruno do Amaral | 30 nov 2022
Rodrigo Brito, Head de Sustentabilidade para o Brasil e Cone-Sul da Coca-Cola América Latina.
Bruno do Amaral | 30 nov 2022

Uma simples mudança de cor na garrafa PET promete uma transformação na cadeia de reciclagem. Esta é a proposta da Coca-Cola para as embalagens da Sprite, que, desde agosto deste ano, estão deixando de ser verdes para ficar transparente. A medida é parte do compromisso da companhia multinacional por um “Mundo Sem Resíduos” e como signatária do Pacto Global pela economia circular da Organização das Nações Unidas.  

A estratégia por trás da mudança é que, sem a pigmentação verde original, a garrafa pode ser reutilizada para mais aplicações. Segundo explica o Head de Sustentabilidade para o Brasil e Cone-Sul da Coca-Cola América Latina, Rodrigo Brito, a cor da embalagem importa:

“Por mais que esteticamente possa ser curioso ou bonito, na cadeia de reciclagem, quanto mais complexo, pior. É mais difícil de coletar, depois tem que separar as cores diferentes, e com volumes menores, o preço [do material] vai lá para baixo para quem realiza a coleta, separação e transformação. Em uma planta de reciclagem com múltiplas cores, há esteiras com a separação das embalagens por pigmentação, o que gera complexidade. Quanto menos cores tiver na planta, e quanto mais [embalagens] transparentes, mais simples e barato vai ser o processo”. 

Por isso, Brito explica que a mudança de cor, após 60 anos do lançamento da Sprite mundialmente, é algo que facilita a economia circular, simplificando o processo para catadores, coletores e recicladores, enquanto aumenta o volume das garrafas PETs mais utilizadas. Também tem um impacto na marca, e por isso a transição iniciou de forma gradual, e agora está em todos os países. 

Brito acredita que essa medida acaba trazendo impacto também na sociedade e na escolha de consumo, ainda que ele considere faltar muito a ser aprimorado. “Falo muito em salas de aula, de pós-graduação e mestrado em sustentabilidade, e muitos não sabem qual é o material mais circular e mais reciclado”, conta. 

“A PET volta a ser garrafa pelo menos dez vezes. Depois disso pode até voltar, mas a cada ciclo vai ficando mais escura, acinzentada ou amarelada. Não é uma questão de saúde, é estética”, conta. O executivo lembra que, mesmo depois desse ciclo, o material acaba sendo reutilizado também para outras aplicações, como no setor têxtil, em isolantes térmicos, tintas, baldes e até nas face shields utilizadas em ambientes hospitalares durante a pandemia.

REPERCUSSÃO

Segundo Rodrigo Brito, dos anúncios ESG mais recentes da Coca-Cola, a mudança de cor da Sprite foi a que ele mais sentiu ser comemorada, comentada e compartilhada por atores da cadeia de embalagem e reciclagem. Isso porque o preço da embalagem verde era “muito pior”, além de ser menos coletado. “A gente viu o setor comemorando um tema que, a princípio, é muito técnico.”

Essa mudança pode trazer impacto na cadeia de circularidade, ainda que o executivo prefira não mencionar competidores. “Abre um exemplo para ser utilizado por outros. Tanto internamente, de outras marcas e embalagens, quanto de outras empresas mudando ou parando de usar pigmentações”, declara. 

A iniciativa é também parte do compromisso Mundo Sem Resíduos, firmado em 2018 pela companhia globalmente e que consiste em quatro metas até 2030:

  • 100% de todas as embalagens serão recicláveis. A Coca-Cola afirma estar já em 99%.
  • 50% das embalagens serão provenientes de fontes de conteúdo reciclado. No Brasil, o índice atual é de 20%.
  • Coletar e reciclar 100% do que se coloca no mercado. A companhia atualmente está em 36%, “muito acima do que a legislação exige”, segundo Brito.
  • 25% de todas as embalagens de bebidas serem feitas de embalagens retornáveis. No Brasil, o índice já está em 20%, embora outros países na América Latina como Chile e Argentina já estejam com 40% e 50%, respectivamente. 

COMO BUSCAR A SUSTENTABILIDADE

Segundo Brito, os compromissos ESG estão na meta e no bônus da alta liderança da Coca-Cola, e há alinhamento de hierarquia de objetivos e priorização, movendo investimentos e levando a empresa ao avanço nas metas.

“Ter compromissos claros com prazos e metas ajuda demais, porque a gente está disciplinado e obrigado a cumprir compromisso, é ótimo para a boa prática das empresas”. 

O executivo diz também que a sustentabilidade não fica restrita a uma área, já que permeia toda a cadeia produtiva e organizacional da companhia, incluindo áreas técnicas ou jurídicas. “São ações de dentro de casa que toda empresa que quer ter uma estratégia importante de ESG precisa ter. Para não ser ‘greenwash’ ou ‘bluewash’, tem que ser coerente, consistente e transparente”, declara. Ou seja: as iniciativas precisam ser significativas no contexto de atuação da companhia, com parcerias idôneas e com clara comunicação das atividades. 

PACTO GLOBAL

Em novembro, a Sprite aderiu ao programa Blue Keepers, ligado à Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil. A iniciativa, parte do compromisso por um Mundo Sem Resíduos, deverá realizar um calendário de ações de limpeza de rios e praias nas cidades de Rio de Janeiro, Manaus, Fortaleza, Recife, Salvador e Santos (SP). As ações serão realizadas a partir do dia 11 de dezembro de 2022 e seguirão ao longo de 2023. O apoio e parceria são da Andina, FEMSA e Solar, fabricantes do Sistema Coca-Cola Brasil nestas regiões, além de ONGs locais.



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