Bolsas de estudo, treinamento para escolas, aula para detentos: como grupo educacional pode contribuir para a educação pública

Maisa Infante | 24 maio 2022
Juliano Griebeler, diretor de Sustentabilidade da Cogna. (Foto: Divulgação)
Maisa Infante | 24 maio 2022

Grupo educacional formado por 70 empresas, a Cogna é uma holding que abarca marcas conhecidas como Faculdades Anhanguera e Unopar, editoras Ática, Scipione e Atual e o Sistema Anglo de Ensino. Atende mais de 1 milhão de alunos do ensino superior e  22 milhões de alunos da rede pública por meio de materiais didáticos. 

EM 2020, a empresa definiu uma estratégia cujo pilar social ganha destaque. Segundo Juliano Griebeler, diretor de Sustentabilidade da Cogna, o setor de educação tem uma atividade que está diretamente ligada à questões sociais. Ele acredita que o impacto acontece no dia a dia das operações da empresa, principalmente ao oferecer acesso à educação superior privada a milhares de alunos, mas também passa pela responsabilidade da companhia com a educação do país, especialmente a educação pública.

“Quando falamos do impacto social, estamos falando daquilo que foge um pouco do nosso objetivo comercial de negócio. Colocamos a educação pública como sendo a nossa bandeira mais importante por ser uma necessidade urgente do Brasil.” 

Tal atuação se dá em diversas frentes, mas existem dois programas principais: o SGI (Sistema de Gestão Integrado), focado na gestão escolar e nos professores, e o Somos Futuro, focado nos alunos. Ambos são desenvolvidos em parceria com os braços sociais da Cogna: a Fundação Pitágoras e o Instituto Somos, respectivamente. 

O SGI é uma metodologia que oferece capacitação em gestão escolar para todas as pessoas envolvidas com as escolas, como as secretarias de educação, diretores, coordenadores pedagógicos, supervisores e professores, que poderão replicar o conhecimento no ambiente escolar, incluindo a sala de aula. 

Com duração de dois anos, a capacitação não interfere nas questões didáticas e pedagógicas, mas trabalha elementos da gestão como liderança, planejamento, processos de trabalho, gestão de pessoas e informações. O objetivo é, por meio da melhoria na gestão, impactar o nível de aprendizagem dos alunos. 

Essa metodologia foi criada há 20 anos e, em 2021, adotou um formato híbrido, com atividades presenciais e online. Foi uma forma de se adaptar à nova realidade que surgiu com a pandemia, mas também uma oportunidade de ampliar o alcance do programa, que foi aplicado em mais de 113 municípios nos últimos 20 anos.  

A escolha dos locais onde o SGI atua leva em conta o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e, também, o interesse do município. A ideia é levar o programa para cidades onde o IDH é muito baixo e, por isso, precisa de um olhar mais atento também do setor privado.

No momento, o SGI está sendo aplicado em 23 escolas de Brumadinho (MG), com previsão de impactar 7 mil alunos, e em Breves, município da Ilha do Marajó (PA) que convive com um dos maiores índices de abuso sexual infantil do Brasil.

“Buscamos municípios nos quais há necessidade e também interesse em se dedicar ao programa, porque é um projeto de 2 anos para conseguir, de fato, melhorar a realidade local”, diz Juliano.

Os resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) são usados para mensurar o impacto alcançado. Os dados da última avaliação disponível, de 2019, indicam que os resultados chegam a ser 0,5 ponto superior em relação à média das escolas que não contam com o SGI. Essa diferença pode representar 1 ano a mais de escolaridade para os alunos.

UM OLHAR PARA O FUTURO DOS ALUNOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS

Enquanto o SGI é voltado para a gestão escolar, o Somos Futuro, programa oferecido pelo Instituto Somos desde 2017, tem como objetivo estimular e acelerar talentos da rede pública oferecendo bolsas de estudos em escolas particulares durante todo o Ensino Médio. O programa já atendeu mais de 500 jovens em 140 escolas e, atualmente, está presente em 98 cidades. 

Os alunos participantes são escolhidos com base em seu desempenho escolar, renda familiar e história de vida. Dentre os bolsistas, a renda familiar per capita é de até 2 salários mínimos e 11% são beneficiários do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família). Além da bolsa de estudos, eles recebem os materiais didáticos e uma mentoria com profissionais da Cogna no primeiro e no terceiro ano. “Durante o Ensino Médio existem muitas inseguranças e dúvidas. É o momento de tomar uma decisão de curso que pode mudar o resto da nossa vida”, explica o diretor de Sustentabilidade.

“Como esses alunos são de famílias de baixo poder aquisitivo e tem uma questão socioeconômica mais vulnerável, existe uma pressão maior sobre isso. A mentoria é para ajudá-los a entender o momento e orientá-los a pensar no futuro profissional.” 

A primeira turma do Somos Futuro chegou ao final do Ensino Médio em 2020 com uma taxa de aprovação de 28% em universidades públicas. Em 2021, 90 novos bolsistas ingressaram no programa, com bolsas que começaram em 2022. 

PROGRAMA AJUDA A LEVAR FORMAÇÃO PARA DETENTOS

Embora não seja a principal bandeira da Cogna, o grupo também atua oferecendo, por meio da Fundação Pitágoras, formação a detentos, uma forma de construir uma alternativa para que a pessoa se desenvolva e não volte para o crime. Em 2021, em conjunto com a Kroton (braço da Cogna focado em ensino superior), a Fundação ofereceu 444 bolsas de cursos tecnológicos a detentos de 51 unidades prisionais em dez estados, no formato de ensino a distância.

A seleção dos participantes é feita em parceria com as unidades prisionais e leva em conta o perfil do aluno, o curso e o tempo de pena que ele ainda tem para cumprir. 

“É preciso analisar uma série de requisitos para garantir que ele vai conseguir aproveitar aquela bolsa, como, por exemplo, o tempo que ele ainda vai continuar na prisão e, caso saia, se terá condições de seguir acompanhando o curso. São requisitos mínimos para garantir que ele não vai largar a bolsa no meio do caminho”, diz Juliano.

A Fundação também mantém uma parceria com a Apac Feminina (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) de Belo Horizonte, em que 110 detentas estudam no formato de ensino a distância e presencial, com formações que vão desde a alfabetização a fomento para empreendedorismo e ingresso no ensino superior. O índice de aprovação dessas mulheres foi de 83%.

As aulas presenciais acontecem dentro da Apac por meio de uma parceria com a Escola Estadual Nair de Oliveira Santos e com a gestão e o apoio da Fundação Pitágoras. 

“Nós ajudamos a estabelecer as salas de aula e todos os materiais necessários para que as aulas acontecessem dentro da unidade. Eu estive lá em março e é muito legal ver o comprometimento das alunas em conseguir concluir o ensino básico e ter uma oportunidade de cursar o ensino superior.”

Para Juliano, os projetos voltados à educação pública e também ao sistema prisional são parte de uma responsabilidade que a Cogna tem com a educação no país, do ensino básico ao universitário. 

“Quando falamos em ESG, o setor da educação tem potencial para gerar muito impacto, de ajudar a educar as pessoas para que elas tenham uma visão mais sustentável ou mesmo ter noção do que é sustentabilidade e da importância deste tema na sociedade.” 



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