COP26, dia 8: Rascunho do texto final circula e Brasil sobe à tribuna

Nádia Pontes | 10 nov 2021 Líderes mundiais na cúpula do clima COP26
Líderes mundiais se reúnem para debater sobre a versão final do novo acordo climático. (Foto: Kiara Worth/UNclimatechange)
Nádia Pontes | 10 nov 2021

O primeiro esboço do texto final que deve sair como resolução da COP26 circulou nesta quarta-feira (10/11) em Glasgow. O documento faz um apelo claro: líderes mundiais precisam remodelar as metas acertadas no planos de corte de emissões para 2030 para que o Acordo de Paris seja cumprido. Com o que se tem até agora, o termômetro vai subir para além do 1,5 ºC desejado no pacto anterior.

Em coletiva de imprensa, Alok Sharma, presidente da conferência do clima, comentou sobre o documento:

“O comprometimento compartilhado de acelerar a ação nesta década precisa ser inabalável. A ciência precisa ser nossa bússola e ela deve nos impulsionar rumo ao consenso.”

O rascunho atual está longe de ser uma versão definitiva, as delegações dos países decidirão o que permanece, o que deve ser melhorado e o que será cortado.

Um ponto no esboço, no entanto, é apontado como divisor de águas das COPs: a menção à eliminação progressiva dos subsídios ao carvão e aos combustíveis fósseis. Caso permaneça inalterada, será a primeira vez que tal referência é feita.

Por outro lado, organizações não-governamentais criticam a presença considerada “excessiva” de lobistas da indústria do petróleo. Segundo levantamento da Global Witness, que publica anualmente um ranking com os países mais letais para ambientalistas, 503 lobistas tiveram acesso à COP26.

A Global Witness pontuou:

“Se o lobby dos combustíveis fósseis fosse uma delegação de um país na COP, seria a maior.”

Para a Climate Action Network, essa participação foi “um lembrete de que aqueles que estão tentando queimar a mesa não devem conseguir um lugar à mesa”, segundo nota divulgada.

O rascunho também não traz compromissos claros para financiamento de perdas e danos. Esse termo é usado no âmbito das negociações da UNFCCC para se referir aos danos causados pelas mudanças climáticas nos países. No entanto, a resposta apropriada a esta questão tem sido motivo de disputa.

O documento diz ainda que os governos devem apresentar estratégias de longo prazo para atingir metas de emissões líquidas de carbono até o final de 2022.

O documento diz ainda que os governos têm até o final de 2022 para apresentar estratégias de longo prazo visando reduzir ao máximo as emissões líquidas de carbono.

A poluição dos transportes

Esta quarta-feira traz para o centro do debate o setor de transportes. Ele é responsável por 23% das emissões de gases de efeito estufa que aceleram o aquecimento do planeta. Estimativas da International Union of Railway (UIC), uma espécie de federação das ferrovias, apontam que as emissões do transporte poderiam chegar a 40% do total global até 2030 se nada mudar.

Para especialistas, a solução para reduzir esta fonte de emissões não pode se resumir à troca da frota por veículos elétricos.

Francois Davenne, diretor da UIC, comentou:

“O transporte ferroviário combinado com o transporte público, a bicicleta e a caminhada são ingredientes essenciais para um sistema de transporte de zero carbono líquido.”

Motivadas pelo dia temático na COP, companhias aéreas disseram que vão apoiar novas formas de propulsão, como aviões elétricos e movidos a hidrogênio. A declaração foi assinada por vinte representantes da indústria, que operam mais de 800 aeronaves e transportam mais de 177 milhões de passageiros em 1,8 milhão de voos por ano.

Como os aviões menores que fazem trajetos curtos devem incorporar as inovações antes das aeronaves maiores, os signatários se comprometeram a ter até 30% da frota  dedicada a percursos curtos equipados com novas tecnologias de propulsão até 2030.

O Brasil na tribuna

O Brasil subiu à tribuna nesta quinta-feira representado pelo ministro de Meio Ambiente, Joaquim Leite. Em sua fala, ele mencionou a nova NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), citou o uso de fontes renováveis para geração de energia e elogiou a criação do Programa Nacional de Crescimento Verde – o que, até o momento, parece mais uma carta de intenções do que um projeto bem delineado.

A meta anunciada pelo Brasil durante a COP26 retoma a promessa anterior, feita em 2015. Embora o país gere a maior parte da eletricidade em usinas hidrelétricas, o governo apresentou, meses antes da conferência, um plano para incentivar a exploração de carvão e usá-lo na sua matriz energética.

Marcelo Furtado, professor visitante da Universidade de Columbia e fundador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agropecuária, ressaltou que, embora Leite tenha dito que o governo dobrou os recursos destinados a agências ambientais federais e contratou 739 novos agentes ambientais, o desmatamento atingiu níveis alarmantes.

“Quando eles falam de contratação de pessoal e dão o número de 739 novos agentes, é mentira. São 96 agentes só para a fiscalização de campo, o restante é auxiliar de escritório, motorista, copeiro, etc”, rebateu Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Furtado criticou as declarações oficiais do governo brasileiro:

“[Leite] terminou o discurso dizendo que ‘o futuro verde já começou no Brasil’. Na prática, o país aumentou seu desmatamento, a participação das térmicas em sua matriz energética e não avançou em sua ambição climática.”


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