“Estamos diante de uma COP decisiva no aspecto de implementação”, diz Eduardo Ferlauto, da Renner

Mariana Sgarioni | 9 nov 2022
Grupo de executivos da Renner, convidados da COP 27, no Egito.
Mariana Sgarioni | 9 nov 2022

A participação ativa do setor privado brasileiro na COP 27 tem sido de extrema importância no contexto mundial. No último dia 8, a Renner foi convidada pela organização do evento para expor suas iniciativas de sustentabilidade em um interessante painel chamado “Usando o Poder ESG para Mudar o Mundo”. A companhia, que atua desde 2010 em diversas frentes ESG, esteve no Egito falando ao lado da Rolim Law Firm, Les Eaux Minérales D’oulmès, Amea Power, Malwee, Aliansce Sonae, Grupo Soma, SCBF e Arab Monetary Fund.

“As empresas não têm mais opção. A fase reativa já passou. Estamos diante da implementação, esta COP é decisiva. Ou as empresas enxergam isso como uma oportunidade, ou vão ter que trabalhar por pressão”, comenta Eduardo Ferlauto, gerente geral de sustentabilidade da Renner, responsável pela apresentação na COP 27.

O convite para a Renner participar da conferência foi recebido depois que a empresa atingiu, em novembro de 2021, a maior pontuação entre todas as varejistas no mundo no Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI) que avalia as práticas ESG dos maiores grupos de capital aberto em vários segmentos da economia.

Na entrevista a seguir, Eduardo Ferlauto nos conta como foi a participação da Renner na maior conferência climática de todo o planeta, suas impressões, quais as metas a serem atingidas, e quais as expectativas que o setor pode ter a partir do encontro.

NETZERO: Qual a sua avaliação das apresentações das empresas neste painel ESG da COP?

EDUARDO FERLAUTO: Esta COP nos traz, como setor privado, um contexto importante que deve gerar uma visão mais prática do que pode ser a governança do mercado de carbono. Ela também nos chama a atenção para a parte da justiça climática, em que países em desenvolvimento precisam avançar na adaptação da redução de emissões de gases. Não tem como as empresas não considerarem essas questões nas estratégias ESG. Isso é intrínseco quando a gente olha os desenhos das estratégias ESG. Notei que um ponto diferencial nosso em relação às demais é a premissa da ciência dentro das estratégias. Percebi apenas uma intenção exposta dos demais, nada materializado, nem aprofundado. No nosso caso a ciência faz parte das nossas ações.

A ciência estaria ligada a inovação, pesquisa e desenvolvimento, certo?

Sim, mas não é só isso. Na Renner, temos 12 compromissos públicos de sustentabilidade até 2030. Um deles são as soluções climáticas, circulares e regenerativas. Estas metas incluem, ao longo dos próximos oito anos, a transição para a descarbonização do negócio, a partir de métricas baseadas na ciência e capazes de criar as condições para Renner chegar à neutralidade climática até 2050. A primeira fase deste compromisso compreende o objetivo de alcançar uma redução significativa das emissões até 2030 – um dos pontos é que queremos que as roupas desenvolvidas por marcas próprias emitam 75% menos CO2. 

Como chegamos a esta conclusão? Esta meta já foi submetida e aprovada pela SBTi (Science Based Targets Initiative). Ou seja: a ciência participa de perto das estratégias de gestão da empresa.

Esta redução de emissão de 75% me parece um grande desafio.

Sim: precisamos garantir a redução de 75% das emissões até 2030 por peça produzida. Para isso será necessário um incremento de portfólio de produtos, e também a participação da cadeia de fornecimento, com networkings e parcerias diversas.  A solução estará na correlação de segmentos e no avanço e cruzamentos da tecnologia. A empresa já vem de um histórico importante de redução de emissões, uma jornada que começou em 2010, e vem sendo trazido numa visão de consistência.

Qual o ponto de mais atenção neste processo?

Acredito que a relevância principal está na cadeia de fornecimento: matérias-primas, a energia, que deve ser feita uma transição para limpa, e aumento das fibras circulares – dentro deste contexto vem reciclagem, fibras regenerativas, cultivo do algodão agroecológico etc. Para atingir nossos compromissos teremos que implementar estes pontos.

De que forma a presença na COP 27 é importante para estas estratégias?

Esta é uma COP decisiva no aspecto de implementação. Estar aqui nos traz uma visão importante sobre posicionamento. Queremos buscar alianças, novas formas de produção de fibras, entender como o cenário está sendo desenhado. E posicionar nossa estratégia de protagonismo: mostrar o quanto dá para fazer, o quanto o aspecto da gestão ESG é fundamental, o passo a passo, e que, principalmente, não tem atalho. Tem que cumprir item a item. Compartilhar este conhecimento na COP entra como um objetivo. Queremos ser agentes de transformação.

Como você acredita que o case da Renner pode ajudar outras empresas?

Olhando de forma bem estratégica: pessoas e sustentabilidade são os dois principais valores da Renner. Este é um fator fundamental. A competência em sustentabilidade é transversal para qualquer colaborador. Dentro desta estratégia, é preciso pensar: o que é relevante para ser feito, e qual o tempo?

A jornada de sustentabilidade corporativa não é de curto prazo: é de médio/longo prazo. Claro que este processo tem que ser acelerado e os prazos estão encurtando. Mas não tem mais opção. Já passamos da fase reativa. Ou a empresa vê o momento como oportunidade, ou vai ter que fazer por pressão. Já está todo mundo preocupado, incorporando iniciativas. Agora esperamos pela regulação, em que as políticas públicas terão que ser os grandes agentes da governança do mercado.



CONFIRA TAMBÉM