Com “Banheiros Mudam Vidas”, Kimberly-Clark estimula doações e passa a articular transformações no saneamento básico

Julia Moioli | 15 fev 2022
Banheiro de escola reformado em parceria com a Plan International. (Foto: Divulgação)
Julia Moioli | 15 fev 2022

Quase metade da população brasileira não tem acesso a saneamento básico, mais de 16% não conta com água tratada e cerca de 4 milhões de pessoas não têm banheiro para uso próprio. As consequências desse cenário são graves e envolvem transmissão de doenças, problemas ambientais, como poluição e enchentes, e até baixo rendimento escolar.

Supreendentemente, o assunto não está entre os que mais ocupam o pensamento dos brasileiros, de acordo com a pesquisa “Descobrindo como os brasileiros enxergam o saneamento básico, e como podemos nos engajar”, realizada em 2021 pela multinacional Kimberly-Clark.

Foi esse contraste entre a realidade nacional e a percepção da população sobre ela que indicou o tom que o projeto “Banheiros Mudam Vidas” deveria adotar a partir do ano passado.

A iniciativa da marca de papel higiênico Neve, da multinacional de produtos de higiene pessoal Kimberly-Clark, para o fomento de ações de acesso ao saneamento básico no Brasil, que existe há seis anos, passou a exercer a função de articulador entre os diversos atores envolvidos na questão, focando em disseminação da informação e mobilização da população.

“Nossa pesquisa mostrou a importância de dar mais voz ao tema, que é tão crítico e urgente”, diz Bruno Sparapani, gerente de marketing para Neve e Scott Duramax. Ele conta que os insights ajudaram a iniciar um diálogo para que todos entendam a urgência de se acelerar essa agenda.

“Percebemos que, no Brasil, fome e segurança são problemas entendidos como mais urgentes porque têm mais visibilidade e mais discussão envolvida. Já a falta de saneamento básico e o impacto que isso gera na população e no desenvolvimento humano não são trazidos à tona com tanta frequência.”

A iniciativa foi lançada em 2015, na Bolívia, e se tornou nos anos seguintes um modelo replicado hoje em 12 países em que a marca atua, como Brasil, Bangladesh, Nicarágua e Peru.

A forma encontrada pelo “Banheiros Mudam Vida” para chamar a atenção da população foi a criação de uma plataforma de financiamento coletivo que, ao longo de quase dois meses, conseguiu arrecadar R$ 250 mil, entre doações realizadas pela marca Neve e pelo público em geral.

Pessoas físicas e empresas podiam realizar as doações com cartão de crédito pelo site do programa. Além de definir o valor de contribuição, era possível escolher para qual iniciativa ele deveria ser distribuído.

“Não tínhamos metas que estipulassem quanto esperávamos receber efetivamente da população”, conta Sparapani. “Acreditamos muito que o programa seja uma jornada e, a cada ano, conseguimos impactar a vida de mais pessoas. Só de termos engajado pessoas para doar e ajudar instituições, já cumprimos a missão de trazer o tema para pauta.”

DOAÇÕES VÃO VIRAR BANHEIRO PARA POPULAÇÃO CARENTE

Bruno Sparapani, gerente de marketing para Neve e Scott Duramax. (Foto: Divulgação)

Os recursos financeiros foram repassados a cinco parceiros que têm em comum a missão de criar impacto positivo sobre a saúde, a sustentabilidade e qualidade de vida no país. Um deles é a Plan International, organização humanitária sem fins lucrativos que trabalha pelos direitos das crianças, adolescentes e jovens e foca especialmente na promoção de igualdade de gênero.

A instituição já iniciou a revitalização de três banheiros em uma escola da zona rural de Teresina (PI), uma das regiões que mais carecem desse tipo de investimentos no país. Para as garotas que menstruam, um banheiro adequado ajuda a prevenir infecções e diminui a evasão escolar. De acordo com Sparapani, ter um banheiro digno afeta para também a vida de toda a comunidade que frequenta a escola, como professores e funcionários.

Para a Water.org, ONG global que auxilia a população carente com microcrédito a taxas baixas especificamente para obras de saneamento, a ideia é incentivar que mais banheiros próprios, caixas d’água e outras iniciativas relacionadas a água potável, por exemplo, sejam construídas.

Outros beneficiados foram a Redes da Maré, que se prepara para construir um banheiro no Galpão de Referência, que vai ser  um espaço de convivência na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro; a Saúde & Alegria, que vai construir banheiros e saneamento em uma base de campo que atende a população ribeirinha na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará; e o Teto, que vai construir banheiros com biodigestores (pré-fabricados e ecológicos) em comunidades de moradia de urgência em sete estados.“Sabemos que a qualidade de vida e o bem-estar da população mudam drasticamente a partir do momento em que se tem acesso ao saneamento básico, seja com água tratada, coleta adequada de resíduos ou banheiros.”

Como esse entendimento ainda precisa ser melhor disseminado, conforme mostra a pesquisa, a educação é um pilar importante trabalhado no programa. Por meio de uma parceria com a Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), realiza uma articulação ao redor do tema em busca de mais visibilidade. Além disso, a Plan International assumiu o compromisso de usar parte do dinheiro recebido pela plataforma de financiamento coletivo para orientar pelo menos 15.000 pessoas no Maranhão e no Piauí sobre o tema.

ALINHAMENTO COM METAS DA ONU

O programa “Banheiros Mudam Vidas”, que já recebeu globalmente mais de US$ 2 milhões de investimento e, apenas na América Latina, já ajudou mais de um milhão de pessoas, contribui para que se atinja o 6º ODS, que é garantir água e saneamento a todos.

Além disso, a Kimberly-Clark também anunciou recentemente sua adesão à Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas e passou a se comprometer oficialmente com o alinhamento de suas operações aos dez princípios universais em Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Combate à Corrupção e aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 

“Nós, da Kimberly-Clark, acreditamos que a iniciativa privada precisa colaborar com a pública para seguirmos evoluindo tanto em questões sociais como ambientais. Essa união é que moverá essas pautas com urgência.”



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